No recôndito dos nossos cérebros jaz escondido o animal que somos.No mais profundo dos nossos córtex ainda vive o ser simiesco que temia a noite pois ela era dos predadores e ele tinha apenas a inteligência para se defender de garras dentes e músculos, e esse animal desperta, facilmente, ao primeiro sinal de terror, principalmente, o medo das forças naturais que sempre dominaram e ainda dominam o homem por mais avançada que seja sua tecnologia.
Na última noite de tempestade que desabou sobre nossa cidade, meu animal resolveu vir à tona pelo medo ôntico e inexplicável dos raios e trovões. O fato de estar circundado e protegido por três ou mais para-raios não chegava às minhas fontes cerebrais primárias que teimavam em disparar a adrenalina sempre que o relâmpago riscava o céu, o ruído atordoante do trovão percorria o espaço. O homem racional dobrou-se ao antigo animal que temia os raios que matavam e fugia do trovão que achava divino.
Como para comprovar que era o meu animal que despertava, um cachorro de um edifício vizinho deve ter sido tomado pelo mesmo pavor e começou a uivar angustiosamente todas as vezes que o relâmpago acendia sua luz ofuscante. Ali estava eu, Homo sapiens, com dois mil anos de informação à minha disposição com tanto medo como um cachorro irracional, ambos dominados e paralisados pela força dos fenômenos naturais. Continue a ler »MARCOS TAVRES EM : Os medos Ônticos