Tinha eu meus dezessete anos quando um determinado prefeito de ingá fez um festão comemorando os quinze anos de sua filha.
Não fui convidado, mas mesmo assim resolvi ir, e assim o fiz, tomei um paletó emprestado a compadre Milton Carneiro, daqueles que as pernas das calças eram dobradas em baixo e zarpei pra festa.
Tive, evidentemente algumas dificuldades para entrar como era de se esperar a um não convidado não menos ilustre como eu, porém com aquela velha lábia consegui entrar.
Minha aparição na festa foi motivo de muita zum zum zum, e zanga por parte dos patrocinadores principalmente por parte da matriarca do evento, entretanto, resolvi mostrar-me presente e ao passar pela mesa dos anfitriões, um cidadão advogado e de família nobre da cidade, acredito que embriagado, curvou-se como que oferecendo-me uma parte com uma srta. que para minha maior felicidade era convidada especial da fabulosa festa.
Ainda sóbrio e oportunista de primeira classe, não perdi por esperar. Curvei-me perante a donzela e saímos a dançar um bolero EL DIA EM QUE ME QUIERAS de Luccio Catica, daí então foi só patatí-patatá, patatí patatá, onde terminei para desespero geral dos anfitriões, sentado à mesa da qual eu jamais poderia fazer parte da programação.
Marcamos encontro na capital onde fui com meu grande amigo Zé Carlos de seu Milton enfermeiro, (saudades) só aí foi que pude constatar que se tratava de moça de família muita rica com diversas lojas de eletrodomésticos, moradores de rua nobre como EPITACIO Pessoa etc…mesmo assim, resolvi encarar e comecei a vender uns carneirinhos que tinha para acompanha-la nas matinês do Astréia e jantares dançantes do Cabo Branco.
Rápido como começou, a carneirada acabou, e como já fazia algum tempo de namoro resolvi contar-lhe a verdade.
A minha situação carneiral etc…e etc…e patati e patatá , mas que já estava gostando dela, e patatí-patatá de novo, e se ela queria continuar mesmo assim.
No que ela respondeu que não ia renunciar ao luxo e riqueza em que nasceu e se criou por um namorico pobre e ainda por cima com um mentiroso.
Oh’ dor ! quase que chorando fui a um bar chamado escondidinho que ficava em frente ao ponto do ônibus do Roger e comecei encher a latra de tudo que fosse bebida, juntei-me a companheiros como o nego Célio, Anselmo (Saudosas memórias) e fiz esse poema que fomos na mesma noite declamá-lo em frente sua residência com um fundo musical “SE DEUS UM DIA OLHASSE A TERRA E VISSE O MEU ESTADO”
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Imagem ilustrativa
E quando o nego Celio começou a dedilhar solo de SE DEUS UM DIA, a bendita apareceu na varando de sua mansão com um camisola branca e linda e aí eu comecei :
De que vale a riqueza em que tu vives
Se não tem o amor que tanto almejas ?
Por amar-te, sou o maior dos infelizes
Se não te ofereço o luxo que desejas!
É porque trouxe escrito o teu destino:
Amarás um pobre de amor infindo
Que trás o coração entre riquezas
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E esse pobre que hoje aqui vos fala
Que só verdade do seu peito exala
E traz ao mundo tal declaração
É porque sabe com a maior certeza
Somente tu serás minha Princesa
Dona exclusiva do seu coração
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Mas, o ambiente em que habitas te afastou da sina
E eu por sofrer demais, também estou mudado.
Teu ouro, para mim não mais brilho.
Hoje prefiro morrer qual maltrapilho
Que viver junto à tí martirizado.
A verdade é que no outro dia a tal figura andou a procura de uma copia dos insignificantes versos no que não foi atendida, claro.
Essa poesia, ou esses versos encontrou um grande admirador chama-se JERONIMO, meu Irmão de Arma do primeiro Grupamento de Engenharia(saudosa memória) que com sua voz rouca e expressiva gritava de longe Quando nos encontrávamos: DE QUE VALE A RIQUEZAEM QUE TU VIVES?
vavadaluz
O poeta Vavá da Luz e seus arretados causos.
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