QUEM NÃO TEM DINHEIRO CONTA HISTORIA : O dia de delegado de Vavá da Luz

QUEM NÃO TEM DINHEIRO CONTA HISTORIA : O dia de delegado de Vavá da Luz

QUEM NÃO TEM DINHEIRO CONTA HISTORIA

Pois muito bem, ontonce la vai, desde criança, assim que comecei  a ter noção de vida e da vida , que alimentei um sonho, o de ser DELEGADO DE PULIÇA, com cedilha, dos brabos.

E muitas e muitas noites de insônia na casa grande e senzala sonhava acordado com a palavra : TÊGE PRESO (com G mesmo) e assim cresci com essa ideia estapafúrdia de ser Delegado de Policia, o Homem da Lei.

Acontece que as intempéries do destino, as agruras da vida contemporânea, me afastaram do sonho e me levaram a carregar malas no hotel  Tambaú.

Casei jovem, e mais por safadeza, irresponsabilidade, que por necessidade, tive que abandonar os estudos para trabalhar e sustentar a prole.

Só que sempre fui uma pessoa de garra e muita fé e não seria um diploma qualquer que iria a desmoronar meu sonho não, me valeria de outros recursos e assim o fiz.

Chamado pelo saudoso Dr Paulo Tavares para Gerenciar sua rede de Hotéis em Pernambuco , Estado onde morei dez anos em sua capital trabalhando no Ramo de Hotéis e locadoras de automóveis, portando  fiz uma vasta amizade com políticos influentes e dentro da própria policia civil.

Aluguei uma casa da irmã do então governador do estado  e todo poderoso da revolução de 64 ,Marco Maciel, politico que eu já conhecia dos Hotéis que administrei.

E patati daqui e patata de lá, terminei em mãos com uma portaria expedida pelo Dr Marcos Maciel me designando COMISSARIO DE POLICIA da pequena cidade de Chã de Alegria no interior daquele majestoso estado.

Comissário de Policia? a segunda pessoa do delegado ? me questionava alegre com o papel na mão a caminho da Rodoviária onde pegaria um BUZUM que me levaria ao novo posto.

Como bom militar que fui e como boa OTORIDADE que já era, posicionei-me no interior o ônibus, para que idosos e superiores hierárquicos ficassem a minha frente.

O sol era escaldante e o motorista do BUS fazia escala a quem lhe desse um aceno.

LOTAÇÃO COMPLETA,  adormeci e acordei sobressaltado com ao passageiros olhando para trás atraídos com os gritos de : TEGE PRESO ! que balbuciei em meu pesadelo.

E entre sonhos de TEGE PRESO cheguei ao destino, procurei a delegacia e me apresentei.

O delegado era um camarada agradável, jovem, bonitão, magro, esbelto, bem , isso é supérfluo porque á época eu era isso tudo e mais algumas coisas também.

Terminada as apresentações fiquei sabendo seu nome, Sebastião, conhecido como Dr Tião, uma fera que foi logo me dizendo :Walter Gois,  você foi mandado pela providencia Divina, acabo de tirar uma licença para acompanhar uma cirurgia de risco a que vai se submeter minha esposa e amanhã de madrugada estou me ausentando, a delegacia é toda sua.

Pensei em dar um grito e um pulo de alegria quando me lembrei  da doença da esposa do colega e lamentei sorrindo por dentro.

Temos aqui dois soldados, um escrivão que está de férias e esse gol BX motor de geladeira que faz cinco anos que não roda, o revolver é da instituição, portanto fique com ele, me entregando um canela fina cabo de madrepérolas com idade de ser meu pai.

Dormi numa rede na cadeia e acordei  DELEGADO DE POLICIA, sonho realizado, então vamos ao trabalho.

Lá pelas sete horas da manha chega o primeiro soldado, era um baixinho buchudo com cara de preguiçoso que não pegava numa espingarda fazia tempo. Bom dia chefe.

 

Sete e trinta chega o outro, mas magro, uns 90 quilos , mais educado, bate continência.

Reuni a tropa de dois, fiz um sermão, disse que a partir de agora CHÃ de ALEGRIA tinha lei, coloquei-os  em forma, dei ordem unida, esquerda volver, direita volver, fi-los cantar o hino Nacional o escambau, tudo isso aos gritos para que os habitantes da redondeza escutasse e propagasse e assim o fizeram.

Mandei arrumar o gol BX que depois de umas trinta tentativas de empurra , empurra , pegou dando mais tiros que um assalto a Banco quando flagrado pela policia e assim terminamos o primeiro expediente do dia e meu como DELEGADO.

Ao meio dia vieram as Quentinhas bem Geladinhas, o almoço era patrocinado pela Prefeitura, e barriga enganada, recostei meu usual chapéu sobre o rosto, estirei as pernas sobre a escrivaninha e cochilei.

Acordei pensando estar ainda dormindo e sonhando tendo em minha frente uma mulher divinal, linda, sua pele era aveludada, seus olhos castanhos penetraram o peito do novo delegado como um punhal e seus cabelos revoltos açoitaram meus desejos.

É O SENHOR O NOVO DELEGADO  Doutor? perguntou-me ela com a voz de Angela Maria, matutei alguns instantes antes de responder como a politica é muitas vezes, corrupta, injusta e abusiva, quantas criaturas estudaram de se acabar para ter um titulo e um emprego daquele meu e nunca conseguiram e eu só por ter QI elevado (quem indique) estava ali tomando o lugar de alguém.

Que dizer, com uma simples canetada passei a ser DOUTOR E DELEGADO.

Mas vamos deixar a vida dos outros e vamos ao que interessa, sou eu sim, respondi atônito fixando seu belo rosto marcado por quatro dedos de uma tapa bem aplicada.

Eu vim aqui doutor, porque meu marido, aquele safado, sem caráter, acaba de me bater e homem que bate em mulher é tudo isso e muito mais, o senhor não acha ?

Oh ! meninos , grito eu chamando os meus obesos ajudantes, botem o BX para funcionar, tragam uma peça de corda pra gente amarrar esse pilantra e vamos a luta.

Com os dois gorduchos no banco traseiro, sentei-me ao volante do motor de geladeira, aprumei o revolver canela fina na cintura que tava batendo nos ovos, olhei para queixosa do lado e ai foi que percebi seu vestido estava rasgado deixando transparecer uma redundante coxa torneada sem manchas com a pelagem pelo de cana caiana.

Depois daquela visão o trinta oito canela fina não encontrou mais posição que desse certo só se eu enfiasse na bunda, porque na frente …

Bom, mas pra onde vamos mesmo madame , onde a senhora mora ?

Oxente ! respondeu ela, perto do fórum, vizinho ao fórum e o Doutor não conhece meu marido não ? O Promotor, Dr Afranio ?

Soltei sem querer o pé da embreagem do BX QUE DEU UM PULO arrancando o banco que me sentava e jogando o 38 canela fina bem nos pés da queixosa que o pegou e apontou pro meu lado.

Levantei as mãos como que rendido no que ela disse: eu estou só lhe entregando Doutor, tome seu revolver, agora o senhor vai ou não vai ?

Respirei fundo enchi os pulmões e balbuciei :Madame, isso é briga de família, a senhora tem certeza de que foi ele, tem provas ?

 

A bonitona saltou do carro e saiu pela rua gritando ; DELEGADO FROUXO, DELEGADO CORNO QUE NÃO PRENDE QUEM BATE EM MULHER, DELEGADO FILHO DA PUTA, ELE VAI VER, VOU FALAR COM O SECRETARIO DE SEGURANÇA PUBLICA AINDA HOJE.

Bem longe ouvi o soldado gorducho perguntar : Doutor, e essa corda , o que faço com ela ?

Jogue no mato , respondi , pois se trouxer pra delegacia em me enforco com ela

O certo mesmo é quem não esperei ela falar com ninguém, a minha carreira tão sonhada carreira de delegado terminou ali com meio dia apenas no exercício da função, voltei no ônibus das 14 horas para recife.

 

vavadaluz