Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa contou uma vez que havia nascido em uma família tipicamente classe média, na Tijuca. Na casa dele, liam-se muitos livros e muitos jornais. Depois, na década de 30, chegou o rádio. Todos em sua casa escutavam o rádio. No entanto, praticamente não se falava de política, conforme contou em depoimento ao CPDoc da Fundação Getúlio Vargas.
As conversas sobre o tema começaram na Faculdade Nacional de Direito, onde entrou em 1943. Na época, presidiu o centro acadêmico e redigiu o manifesto da instituição saudando a queda de Getúlio Vargas e do Estado Novo. Ali, já estava formado o perfil do analista político mais antigo em atividade no Brasil. Ele se definia como o “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política que ainda hoje se pratica”.
Formado em direito em 1947, ele era funcionário público do antigo Serviço de Alimentação da Previdência Social quando decidiu se iniciar no jornalismo. O motivo: precisava de mais dinheiro para pagar as despesas do parto do segundo filho, que nascera de cesariana. Estreou então em 1948 no jornal “A Notícia”. Escrevia pequenas notas sobre diferentes assuntos, inclusive policiais. Sua primeira grande reportagem foi uma denúncia sobre propina envolvendo um tabelião — irmão do então vice-presidente da República, Nereu Ramos — e um ministro.
“Durante 12 anos, meu local de trabalho foi a Câmara, no Palácio Tiradentes. Como não havia gabinetes privativos, à exceção da Presidência e de algumas lideranças, o ambiente facilitava o convívio. Os jornalistas passavam o dia acompanhando o processo político e os debates”, lembrou Villas-Bôas, em entrevista no site da ABI, em 2008.
Essa trajetória iniciada no jornal “A Notícia” se estendeu por mais de 60 anos de atuação na imprensa carioca. Em seu currículo estavam o “Diário de Notícias”, a Rádio Nacional, os telejornais da Rede Manchete, os jornais “O Estado de S.Paulo” e “O Dia”, além do “Jornal do Brasil”, aonde chegou pela primeira vez em 1956 e criou a famosa coluna Coisas da Política. Saiu em 1960, com a mudança da capital para Brasília. Voltou ao JB em 1978, onde ficou por mais de 30 anos.
Além da atuação na imprensa, lançou os livros “Conversa Com a Memória”, sobre 50 anos de jornalismo político, e “Casos da Fazenda do Retiro”, com lembranças da juventude.
Para os jornalistas, Villas-Bôas sempre foi uma referência.
— Ao lado de Carlos Castelo Branco, o Castelinho, Villas-Bôas foi um dos maiores nomes do jornalismo político durante toda a metade do século XX. Nesse período, ele viveu momentos intensos, passando pelos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Houve o golpe de 1964, a ditadura militar, as lutas pela redemocratização, a anistia, as Diretas Já. Ou seja, ele foi um analista privilegiado desses momentos intensos da História do Brasil — disse o jornalista Ancelmo Gois, colunista do GLOBO, que trabalhou com Villas-Bôas no “Jornal do Brasil”.
O escritor e jornalista Zuenir Ventura também foi colega de Villas-Bôas no JB, além de grande amigo do colunista.
— O Villas foi um dos grandes representantes daquela geração de cronistas políticos que tiveram a maior importância no Brasil em períodos difíceis como a ditadura. Ele era também um grande repórter, além de analista político. Houve o atentado no Riocentro, a bomba lançada pelos terroristas de direita. Foi ele quem deu esse furo. Na época, foi o primeiro a dizer que eram terroristas de direita, um tenente e um sargento do Exército. Ele teve a coragem de dizer isso. Villas era um repórter de grande perspicácia jornalística e um grande analista. Ele e o Castelinho foram dois dos melhores representantes do jornalismo político do Brasil.
Villas-Bôas estava internado desde sexta-feira passada no Hospital São Lucas, em Copacabana, com problemas respiratórios. Nascido em 2 de dezembro de 1923, ele morreu ontem, aos 93 anos. Viúvo, deixa dois filhos e três netos.
G1/vavadaluz
Meus sentimentos a toda família.
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