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Blog do Vavá da Luz

RUAS DE SAUDADES (por Tião Lucena)

Tenho admiração pelos que ainda resistem e insistem em morar no lado antigo de João Pessoa. De vez em quando ainda encontro alguma casa com mobília e gente dentro naquele emaranhado de lojas em que foi transformada a chamada cidade velha e sinto, não nego, até inveja. Casas lindas, espaçosas, com grandes     quintais e pomares de variadas fruteiras foram trocadas por apartamentos apertados na chamada orla marítima, em nome de uma segurança suspeitosa e de uma modernidade sem graça. Enquanto isso, a João Pessoa de ontem foi virando deserto, feira livre, bordel de terceira e cemitério de prédios, estes últimos fechados pelos donos para que caiam com o tempo e sobre o terreno para ser vendido a peso de ouro. 

 

Dá pena ver as Trincheiras, de antigas mansões e barões, sendo invadida pelo melão de São Caetano e pelas favelas periféricas que sequer respeitam a sua antes iluminada balaustrada. Grandes palacetes ruem à cada mês, virando paredes descascadas pelo descaso dos donos e habitadas por lembranças de um passado que foi transformado em fantasmas que vagueiam na solidão de lembranças e saudades que o tempo resolveu matar.  

A Rua da Areia, velha e bela Rua da Areia que Walfredo Rodrigues fotografou para a imortalidade, quase não mais existe. No seu lugar surgiram bodegas, cabarés, oficinas mecânicas, lanchonetes e ruínas de antigas casas. O que não virou estabelecimento comercial, teve as portas fechadas a tijolos e cimento e os interiores arruinados para ver se, mais tarde, o terreno tem serventia. Como se trata de território tombado pelo Patrimônio Histórico, dá-se o abandono e aí o Iphaep, que só existe no papel, não impedirá a venda do terreno. Tudo planejado, como se planeja um assalto a banco.  

 

Sobra o Roger, o velho Roger, que continua intacto, bonito, gostoso de se ver, preservando sua memória, povoado de lembranças, de recordações açucaradas pelas lágrimas da saudade, abrigo de namoros inocente  e de inocentes serenatas ao som do violão choroso e da valsa que o tempo não levou. 

 

Mas, até quando isso ficará de pé

1 comentário em “RUAS DE SAUDADES (por Tião Lucena)”

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