Conheci outrora um homem que, sempre que passava por um campo, conseguia ouvir o milho a cantar.
— Ensine-me — pedi-lhe um dia. — Explique-me como consegue ouvir o milho.
— Não, não fiquei — respondeu. — Pareceu-me a coisa mais natural do mundo.
Numa outra ocasião, quando estávamos juntos, vimos uma lagartixa a correr para junto de uma rocha. O homem, que tinha por hábito fazer perguntas difíceis que levam tempo a responder, disse:
— Às vezes, quando as coisas se sentem bem, fazem um leve rumor. O que ouvi, agora mesmo, foi o som de satisfação que a rocha emitiu.
Depois, contou-me que uma amiga sua tinha ouvido, aos sete anos, o rumor de um céu cheio de estrelas. E que essa mesma amiga ouvira, aos oitenta e três anos, um cato a florescer na escuridão. A princípio, não compreendera o que ouvia e tinha-se limitado a seguir o som. Quando deparou com o cato, este tinha vinte flores brancas que reluziam ao luar.
— Eu vou empregar bem o meu tempo, mas tem de me ensinar a escutar — prometi.
— Gostava de poder ensinar-te, mas tens de o aprender com as colinas, as formigas, as lagartixas, as sementes, e coisas desse género. São elas que nos ensinam.
— Esforça-te por conhecer uma coisa o melhor que puderes. Começa por uma coisa pequena. Não comeces por uma montanha. Não comeces pelo Oceano Pacífico. Começa por uma pocinha, uma semente seca, uma lagartixa, uma mão cheia de pó, ou uma onda de areia.
O homem disse-me que tinha começado por uma árvore. Quando era jovem, todas as manhãs trepava a um choupo, e ficava lá sentado a escutar. Valia sempre a pena. Segundo ele, as árvores são muito honestas e não gostam de pessoas complicadas. Não se recordava de ter feito algo mais importante na vida do que sentar-se naquela árvore.
— Conte-me tudo — pedi-lhe.
— Em primeiro lugar, tens de respeitar aquilo que pretendes ouvir. Se pensares que és superior a uma lagartixa, nunca a ouvirás, nem que, para isso, fiques sentada ao sol durante o resto da vida. Não deves ter vergonha de aprender com a areia, os insetos, ou seja o que for.
— É bom andar com outras pessoas, mas deves ir sozinha também. Assim, podes parar e escutar sempre que o momento seja apropriado.
E lembrei-me. Mas não funcionou como pensava. Achei que devia ter algum problema porque só ouvia o que todas as pessoas podiam ouvir: o vento, os coiotes, as pombas, as codornizes. Quase desisti, embora continuasse a passear nas montanhas. Na verdade, costumava cantar-lhes canções. Já que elas não cantavam para mim, cantava eu para elas, embora a minha canção só tivesse um refrão – “Olá, montanhas!”
Certa vez, tive de me ausentar durante uma semana. Quando regressei, senti saudades das montanhas. Na manhã seguinte, levantei-me cedo e fui vê-las. E aquelas montanhas pareciam novas.
Todos sabemos que as coisas têm um aspeto diferente ao amanhecer… Por onde quer que eu fosse, só pensava “Eis-me aqui!” e tudo parecia estar bem. Subi a montanha pelo lado rochoso, em vez de tomar o trilho que leva ao topo.
Prefiro aquele caminho, embora seja mais íngreme. Encontrei três penas de falcão, peguei nelas e saudei de novo as montanhas. De repente, dei-me conta de que não era a única a cantar. As montanhas cantavam comigo. Parei e deixei-me estar ali, durante mais de uma hora. Nunca escutei com tanta atenção em toda a minha vida.
Nem sequer cantam de forma a que possamos explicar o som que fazem. Não cantam com palavras. Não podemos transcrever a sua canção. Só posso afirmar que o som vinha das rochas cobertas de lava brilhante, e que era um murmúrio que se movia com o vento. Parecia o som mais antigo do mundo.
E eu estava no centro daquele som às sete horas da manhã e só me vinha uma ideia à cabeça “Estou finalmente a escutar!”
The other way to listen
New York, Aladdin Paperbacks, 1997
Boa Tarde
Como é bom, você fazer leitura, além de exercitar a mente acalma a alma, pois é assim que a natureza reagem, pois nós falamos tanto talvez não escutamos o bastante.
Parabenz Senhor Historiador Vava da Luz, valeu sou um leitor atento sempre, gostaria de ler augo deste tipo falando da falna e da flora.
Um Abraço.
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