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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTORIA EM : O meu Pai

A festa do meu décimo aniversário estava a correr lindamente, com os meus amigos e a minha família presentes para partilharem esse dia especial comigo. A dado momento, a minha mãe chamou-me à parte e disse que tinha duas coisas importantes a comunicar-me. Coisas que iriam mudar a minha vida. Assim que todos foram embora, sentei-me na sala, acompanhada pelos meus pais e pela minha irmã. A minha mãe começou por dizer-me que eu tinha muita sorte por ter uma família tão carinhosa. Depois, contou histórias de quando eu era mais nova e de como o meu pai tomava conta de mim quando ela ia trabalhar.

À medida que ela ia contando episódios da minha infância, eu acrescentava algumas recordações que tinha desse tempo com o meu pai. Depois de termos partilhado algumas memórias inesquecíveis, a minha mãe começou a chorar. Fiquei assustada porque não percebia o que se passava com ela. Foi então que me contou que, onze anos antes, pensara estar apaixonada por um rapaz que não era o meu pai, ou seja, por alguém que não era o homem a quem eu sempre chamara pai.

Disse-lhe que não queria ouvir mais nada, que não queria ouvir a verdade. No entanto, ela continuou a falar. Contou-me que, quando ficou grávida, o marido, o meu pai biológico, com quem tinha vivido quatro anos, a abandonou, dizendo que queria ser livre. Era seis anos mais novo do que ela e não queria responsabilidades; não estava preparado para ser pai. A família dele ficou feliz por eu ter nascido, mas nem mesmo a minha avó biológica conseguiu convencer o filho de que estava preparado para ser pai. O meu pai só pensava em encontrar-se com os amigos e sair com outras mulheres. A minha mãe contou que voltara para casa da mãe e que, ao fim de algum tempo, conheceu o novo marido, a pessoa que eu sempre pensei que era o meu pai.

Falou-me de todo o amor, ajuda e apoio que ele sempre nos tinha dado, quer na mudança de casa, quer nas situações do dia-a-dia. Quando nasci, o meu pai biológico esteve no hospital acompanhado pela família dele, mas recusou ficar connosco, apesar de a minha mãe lho ter pedido. Assustada, a minha mãe pediu ajuda à família e acabou por ir viver com o meu pai. O meu pai biológico saíra, entretanto, do país. Decididamente, o meu aniversário acabou de forma bem diferente daquela que tinha começado… Seis meses depois desta revelação, falei com o meu pai biológico por telefone, mas a conversa não decorreu da melhor maneira.

A sua voz dura era tudo menos franca e acabei por desligar. No fundo, nada tínhamos a dizer um ao outro. Naquela altura, detestei a minha mãe por me ter tido e por me ter mentido. E quando me perguntavam pelo meu pai, mentia e dizia que era órfã de pai. À medida que os dias, os meses e os anos iam passando, eu gostava cada vez menos desse pai biológico, e ainda menos da minha vida. A minha mãe pedia-me que não o odiasse, porque ele não sabia o que tinha perdido por me abandonar.

Também tinha sentimentos confusos em relação à minha mãe, porque, apesar de ela ter estado sempre presente, eu culpava-a por toda a confusão em que a minha vida se tinha tornado. Agora que tenho treze anos, comecei a compreender que o que aconteceu não foi culpa da minha mãe ou minha, e toda a minha dor e mágoa começam a sarar. Aprendi que as coisas acontecem por uma razão, embora não saiba ainda qual, e acredito que a seu tempo irei descobri-la.

A pessoa com quem me sentia tão zangada, o meu padrasto, estava no fundo a proteger-me e eu estava demasiado zangada para o ver. De vez em quando ainda pergunto à minha mãe porque me contou a verdade e ela responde que eu acabaria por sabê-la de qualquer forma. Acho que tenho de confiar mais na minha mãe. No fundo, o pai que me criou, o meu Pai, estará sempre em primeiro lugar no meu coração e na minha vida, embora a minha certidão de nascimento diga outra coisa. Hoje sei que o meu pai será sempre o meu Pai.

Sharendalle Murga (Tradução e adaptação)

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