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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTORIA EM : Avó de cima, avó de baixo

 Quando Tomi era pequeno, tinha uma avó e uma bisavó. Gostava muito das duas. Aos domingos à tarde, Tomi e a família iam visitá-las. A avó estava sempre em baixo, na cozinha. A bisavó estava sempre em cima, na cama, porque tinha noventa e quatro anos. Tomi chamava-as avó de cima e avó de baixo.

E todos os domingos fazia o mesmo. Tomi chegava a casa, cumprimentava o avô Tom e a avó de baixo. De seguida, subia as escadas para o quarto da avó de cima. — Vai buscar caramelos — dizia a avó de cima. E Tomi abria a caixa da costura que estava sobre a cómoda e pegava numa pastilha de menta. Uma vez, a avó de baixo entrou no quarto. Sentou a avó de cima numa cadeira. E prendeu-a para não cair. — Por que é que pode cair? — perguntou Tomi. — Porque tem noventa e quatro anos — respondeu a avó de baixo. — Eu tenho quatro. Prende-me também à cadeira — disse Tomi. E a partir daí, todos os domingos, Tomi tirava caramelos da caixa que estava em cima da cómoda. A avó de baixo subia e atava a avó de cima e o Tomi.

E comiam caramelos e conversavam. Q A avó de cima falava dos duendes. — Tem cuidado com o que leva um guarda-sol vermelho com uma pena. Brinca com fósforos — dizia ela. — Está bem— respondia Tomi. — Olha, está ali. Em cima da escova e do pente. Estás a vê-lo? Tomi dizia que sim com a cabeça. A avó de baixo fazia um bolo e levava-o lá cima, antes de Tomi ir embora. Depois desatava Tomi e levava-o para outro quarto. — Vamos todos descansar um bocadinho — dizia-lhe. Depois da sesta, a avó de baixo penteava o bonito cabelo branco da avó de cima e, de seguida, penteava o dela. Fazia uma trança e prendia-a com ganchos num puxo. — Parece um rabo-de-cavalo — dizia Tomi.

Um dia, o irmão mais velho de Tomi entrou no quarto e viu a avó de cima despenteada. — Parece uma bruxa — disse a Tomi. — É mentira. É muito bonita — respondeu Tomi. — Vamos comer um gelado! — costumava dizer o avô Tom. Tomi e o irmão acompanhavam-no. Às vezes também iam o pai e o tio Carlos. Quando regressavam, a avó de cima tinha de jantar. Tomi subia as escadas e levava a bandeja com leite e bolachas. Outro dia, o pai de Tomi filmou a avó de cima e a avó de baixo, com Tomi no meio delas.

Uma manhã, a mãe de Tomi entrou no quarto e disse-lhe: — A avó de cima morreu na noite passada. — O que é morrer? — perguntou Tomi. — Morrer quer dizer que a avó de cima não voltará a estar aqui connosco — respondeu a mãe. Foram a casa das avós, e não era domingo. Tomi subiu as escadas antes de cumprimentar quem quer que fosse. Entrou no quarto da avó de cima. A cama estava vazia. Tomi começou a chorar. — Vou voltar a vê-la? — perguntou. — Não, meu amor.

Mas sempre que pensares nela, ela estará contigo. Desde então, Tomi chamou à avó de baixo simplesmente avó. Uma noite, Tomi levantou-se e ficou a olhar as estrelas através da janela. De repente, uma estrela caiu do céu. Tomi correu para o quarto dos pais. — Vi uma estrela a cair do céu — diz Tomi. — Se calhar era um beijo da avó de cima — diz a mãe. O tempo passou e Tomi cresceu. A avó de baixo envelheceu. Acamou como a avó de cima. E depois também morreu. E uma noite, enquanto Tomi olhava pela janela, viu cair outra estrela.

«Agora, as duas são avós de cima», pensou. Tomie de Paola Abuela de arriba, abuela de abajo Madrid, SM; 2004 (Tradução e adaptação)

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