Uma vista no Cariri chovido (Carlos Marques Dunga Júnior)

É mês de março, ano de 2024. As horas parecem nem passar, o cenário de tanta beleza faz marejar os olhos do verde que inunda a paisagem do Cariri. A passagem do carro pela terra molhada, faz o ritmo cadenciar dentro do coração. Os riachos ainda escorrem água santa, onde o cantar dos sapos fazem eco. Opera em ecos de riacho abaixo, dizendo: “estamos vivos, alegres, salvos”… e é de gratidão esse canto que também vira hino.
Aqui se contam nos dedos os anos bons de inverno. Contam-se os anos que o açude sangrou, pois, na sobrevivência da aridez de nosso recanto, os fortes sobrevivem aos dias secos e aos de muita chuva, com a mesma vontade de viver essa vida “Severino”. Essa vida de nós, essa que, mesmo você estando na cidade grande, na metrópole, nos mais diversos recantos do mundo, se você nasceu num Cariri, ao olhar de um relâmpago, ou ao som de um trovão, você logo imagina seu torrão, sua gente, seu café coado, sua saudade que se reveste de esperança, no tempo bom da invernada.
Hoje vivi mais uma cena de cinema no meu Cariri, e, nessa tarde, Deus, além de me abençoar com Sua presença, na companhia de meu pai, percorremos cantos que há muito caminhamos, ora na ressequida terra, ora molhada como hoje.
Olhando para ele, vi os olhos marejarem em um propósito verdade – o amor, a coragem e a esperança de poder viver o que estamos vendo. Eita, Deus, a gratidão enche a alma, os passos atravessam os dias, as águas de março correm em abundância no destino certo, o verde me enche de amor, e a vontade, a presença do meu pai, me enobrecem e me fortalecem, rumo à próxima estação.
É esse o sentimento de um dia chovido no Cariri: crença, valor, afeição e amor, cultivados no solo que é fértil, irrigados pelas águas dos olhos, traçados na roça pela mão que faz a terra produzir.
Somos nós, é Deus!

Carlos Marques Dunga Júnior