“Tive oportunidade de fazer um magnifico passeio pela cidade em companhia dos drs. João Suassuna, Guedes Pereira e José de Almeida. O automóvel deslisou agradável, suavemente por aquellas três grandes planícies: Trincheiras, Jaguaribe e Tambiá.” Era setembro de 1924, há pouco mais de cem anos. Suassuna era o futuro presidente, já eleito. Guedes Pereira, o prefeito nomeado por Solon de Lucena e o José de Almeida falado seria, um futuro grande nome da Parahyba no cenário nacional – José Américo de Almeida, colega da turma de 1908 da Faculdade de Direito do Recife, do jornalista visitante, chegado da Capítal Potiguar em um dos trens de Great Western. Joaquim Ignacio era o seu nome. Foi vice presidente de Juvenal Lamartine e chegou ao Senado representando seu estado.
A começar da estação ferroviária, Joaquim Ignácio se demora na contemplação da paisagem e registra a movimentação do Varadouro: caminhões, carros arrastados por muares, carregados de mercadorias. “Duas grandes dragas descansavam placidamente” às margens do Sanhauá, onde se avistava um trapiche de madeira, “vestígio de um porto que se tentou fazer ali”. A caminho do Hotel Globo onde estava hospedado, o visitante impressionou-se com a grande quantidade de manilhas de “barro vidrado” a serem utilizados nos esgotos da cidade. Era a continuidade de uma obra iniciada por Castro Pinto, que tomara Saturnino de Brito de empréstimo a , Pernambuco, a que Solon de Lucena estava dando prioridade.
Dominando toda a rua Maciel Pinheiro, agigantava-se o prédio da Associação Comercial, construído à base de contribuição dos sócios e uma ajuda do Estado no valor de 20 contos de reis. Foi inaugurado em 1919 por Epitácio Pessoa. Da frente desse prédio, partiam os bondes com destino ao Ponto de Cem Reis. Daí se bifurcava a linha: uma seguia em direção das Trincheiras e outra em direção ao Tambiá. No Ponto Cem Reis destacava-se “o palacete do dr. Guilherme Silveira e um prédio destinado à espera dos bondes, dotado de aparelhos sanitários públicos”.
Nessa época, ainda estava em construção o vetusto prédio dos Correios e Telégrafos. Ao seu redor estavam edificados o Teatro Santa Rosa, o quartel da Policia Militar e o Tesouro do Estado. Neste ultimo, cabiam ainda o Forum e a Assembleia Legislativa, de frente para o Grupo Escolar Tomas Mindelo, todos, com endereço nas praças Pedro Américo e Aristides Lobo.
Na praça comendador Felizardo, hoje João Pessoa, e na praça Venancio Neiva, as bandas marciais mais famosas realizavam suas retretas nos finais de semana. Depois de conhecer os prédios da Imprensa Oficial, da Escola Normal e do Liceu Paraibano, o ilustre visitante, acompanhado das autoridades locais, adentrou ao Palácio da Presidência. Do encontro com o presidente Solon de Lucena, registrou:
“ Sua Excia tomou a palavra e, dentro em pouco, compreendi como seria proveitoso para mim permanecer ouvinte durante aquella hora em que o senhor Presidente falou. Falou-me das obras do Nordeste, da sua confiança no futuro d’esta região e discorreu a respeito dos problemas communs a todos esses estados sujeitos a seccas, quero repetir, com uma eloquência especial que não era feito d’este verbalismo ôco, muito do agrado dos theóricos incorrigíveis, por que brotava, como a agua que vem cahindo naturalmente das fontes, do intimo de um organismo”.
Depois de ouvir o presidente Solon, o jornalista despediu-se dos seus companheiros de passeio e partiu no primeiro trem em direção ao brejo, não sem antes, definir seu companheiro da Faculdade de Direito: “Conhecem o sr. José de Almeida? É um esquisitão, sofrendo de myopia, a pendurar constantemente um pince-nez incommodo, u’ma alma de grego…É porém um escritor sizudo… que nos aparece agora, ruidosamente, com uma brochura de grande tomo e valor ( Referia-se a A Parahyba e Seus Problemas) (Mantive a grafia da época.)
Excelente, Ramalho! Gosto de suas crônicas memorialistas, principalmente quando nos faz viajar pelos recantos de nossa querida João Pessoa.