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SEU ANTÔNIO, O VELHO DO SACO (Rui Leitão)

 

Não se trata do personagem popular conhecido como o “velho do saco” que era utilizado para amedrontar crianças. O “velho do saco”, a que me refiro, é Antônio Serafim da Silva, que, nós pessoenses, estávamos acostumados a ver como um andarilho carregando um saco nas costas. Por isso, muitos o identificavam como “o velho do saco”, ou Antônio Rasga Rua. Essa figura folclórica da capital paraibana sempre demonstrou ser um sujeito inofensivo, pacato, sem abrir oportunidades de diálogo com quem quer que fosse.

Desde 2022, após ser atropelado por uma moto, passou a morar com uma sobrinha no bairro de Cruz das Armas, quando estava com 80 anos, saindo, então, da situação de rua, após muito tempo de solidão. Sua história de vida continua envolta em mistério. Mas há relatos de que era um homem de boas condições financeiras e de vida normal, que ao sofrer uma desilusão amorosa teria decidido desligar-se dos cuidados básicos relacionados à saúde, higiene, alimentação e moradia. A gente via, muitas vezes, ele nas portas de igrejas chamando a atenção dos que frequentam esses templos religiosos. Porém, não incomodava ninguém.

Na tentativa de ressocializá-lo foi acolhido por igrejas católicas, onde, por algum tempo, recebeu um tratamento que lhe garantia banho, corte de cabelo e novas roupas. Contudo, sempre resolvia voltar às ruas. Há informes de que um amigo de infância ofereceu uma casa no Geisel para morar, pagando uma diarista para cuidar dele, mas, após 15 dias, desapareceu.

Em 1989 o cineasta J. Carlos Aguiar Mendes, do Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), produziu um documentário intitulado “Antônio Rasga Rua”, com duração de 26min43segundos, mostrando suas caminhadas diárias sem destino. O artista Breno Renan fez um seu retrato, com a camisa aberta e o cabelo desalinhado, pintado a óleo sobre tela de 30 x 40. A obra artística fez parte do projeto Retratos Invisíveis, do curso de artes visuais da UFPB. Outro artista que, também, fez outra pintura, com tinta acrílica, foi Fernando Carvalho.

O “velho do saco” tornou-se presença marcante nos cenários da vida urbana de João Pessoa. Um homem diferente, enigmático, mas que conseguiu sobreviver sem sonhos ou anseios, solitário em meio a uma população que se aproxima de um milhão de habitantes. Soube conviver com as adversidades do isolamento social sem se abater e se sobrepondo às necessidades de estabelecer relações de amizade. Apesar de não viver anonimamente, adotava uma atitude de reserva, sem preocupações com a aceleração do dia a dia. Ao que se sabe nunca foi molestado. Pelo contrário, sempre foi respeitada sua existência como um indivíduo que optou por navegar na solidão em meio à multidão da cidade. Preferiu a “retirada social”.

Rui Leitão

1 comentário em “SEU ANTÔNIO, O VELHO DO SACO (Rui Leitão)”

  1. Obrigada Rui pelas informações de Antonio , o homem do saco!
    Saber a real causa de tamanho isolamento sempre foi a curiosidade de muitos!

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