A PROPAGANDA NÃO MUDOU O HOMEM MAU (Gilvan Freire)

Gilvan Freire

A orgia publicitária que RC faz para tentar salvar seus três anos de governo perdidos e melhorar a sua imagem diante de danos considerados por todos como irreversíveis, é uma demonstração cabal de que não haverá limites financeiros, morais e éticos que o governo possa ter para reeleger o governador. Isso é uma coisa assombrosa num Estado pobre de cultura social e indigente de cidadania onde o povo não tem tradição de mobilização, como no Rio de Janeiro e São Paulo, e suporta amofinado todas as formas de agressão e lesão aos cofres públicos e os maiores absurdos das classes dirigentes na defesa de seus próprios interesses.

Mas se o povo, ainda que não tivesse boa formação política e cultural e senso de civilidade, e não se prostasse como acontece rotineiramente, ou não lhe sobrasse cidadania suficiente para indignar-se contra esses abomináveis ataques aos minguados recursos públicos, tivesse ao menos uma retaguarda de proteção baseada nas instituições de controle do Estado, especialmente o órgão do Ministério Público, Tribunal de Contas e o Poder Judiciário, inclusive os da jurisdição eleitoral, o próprio gestor pensaria mais de uma vez antes de praticar esses abusos de conduta.

POR ENQUANTO, PELO MENOS, MESMO COMETENDO AS PERIPÉCIAS QUE VEM FAZENDO NO ANO DAS ELEIÇÕES para apagar da memória do povo os três anos de monumental desastre administrativo e político, RC não está conseguindo sair do canto, o que revela a existência de uma rejeição crônica da população a seu estilo de predador e pitbull, capaz de começar sua obra de destruição a partir de seu próprio canil, onde nem mesmo as fêmeas escapam – apenas pouquíssimas sobrevivem por breve tempo ao lado da fera dominante e exterminadora.

A última pesquisa, divulgada nessa segunda-feira pelo CORREIO DA PARAÍBA, registra o crescimento da candidatura de Cássio e queda na de Ricardo Coutinho, numa hora em que o governo ocupa todo o sistema da multimídia do Estado com uma avalanche de propaganda massiva e milionária, sem precedentes em nossa história recente, faz prova de que não há milagres dos homens para salvar RC do escalpe que o povo quer fazer de seus cabelos.

NOS ÚLTIMOS ANOS, OS MARQUETEIROS (QUE SÃO VERDADEIROS FEITICEIROS DAS CAMPANHAS) passaram a figurar entre os salvadores das almas políticas perdidas, transformando os rejeitados em acolhidos, os desonestos em vítimas das perseguições, os maus gestores em pais dos pobres, e os mortos em ressuscitados. Ao que está parecendo, neste momento, é que para RC não está prescrita a salvação, nem pela via dos homens nem pela via dos gênios, já que pelos milagres de Deus ele não se fez merecedor. E se sabe: sem merecimento nem fé, não há unção.

Talvez possa ser injusto mesmo se dizer que o povo não reage como devia aos desmandos dos políticos e gestores na malversação do dinheiro público. A marcação serrada da maioria dos eleitores paraibanos, bloqueando os extravagantes desatinos de RC na busca da reeleição a qualquer custo, quebrando o Estado para se passar por “bonzinho de ocasião”, é pelo menos um ato de consciência coletiva e de controle democrático. Se formos esperar pelas instituições, RC leva à falência o poder público e entrega as chaves a quem sobrar entre as autoridades ditas responsáveis. E talvez não escape ninguém para recebê-las.

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