Todas as vezes que escrevo com minha Parker 51, alimentando-a com a tinta azul do tinteiro, lembro-me do passado. Na minha infância, a cidade, já construída, não tinha visto engenhosas construções. O que me marcou, nessas observações de criança, bem perto da minha casa, foi a construção da primeira ponte de Pilar, onde existia, à margem esquerda do rio Paraíba, um terreiro de dança de coco de roda e ciranda, e, às vezes, o Bumba Meu Boi, que foi transformado em canteiro de obra com largo espaço para nossas brincadeiras de criança, que éramos muitas: Domício Pontes, Zezita Matos, Frutuoso Chaves, Lenilda e Hélio Melo, Hélida, Toinho, José Emílio, primos e filhos do escritor José Augusto de Brito; e ainda, meus irmãos Marilene e Ivan. Como escreveram na sua frontal cabeça, a ponte foi construída em 1956, no governo (1951 – 1957), de José Américo de Almeida.
À meninada era explicada a mágica que a ponte faria de atravessar o Rio Paraíba, sem pisarmos na água e por onde também passariam cavalos, gente, carros, marinetes e caminhões. Nesse sentido, já havia a de Itabaiana, que resistiu à força das águas. Mas, a de Pilar ruiu, depois que uma enorme árvore, arrancada e carregada pela cheia, bateu e derrubou um dos seus pilares. As pontes são assim, graças aos rios, têm suas histórias. Inclusive, por analogia, é dito que, quando nossos relacionamentos se distanciam no outro lado da margem, é preciso fazer a ponte. Contudo, em Memórias de um Aprendiz de Nada, o ex-prefeito pilarense, meu tio José Augusto de Brito, afirma que, em 1957, tal ponte, então construída, destruiu o emprego do violinista “índio Petório”, na sua serventia de canoeiro, atravessando pessoas vestidas, ao outro lado do rio. Bendita foi a vez em que ele atravessou Frei Damião de Bozzano e comitiva, chegados da estação de trem, até o outro lado, onde ficava a igreja.
Agora, bem após esse passado, a crônica Uma Ponte para Augusto, do escritor Francisco Gil Messias, enviada a mim por Manoel Jaime, na qual “Cleanto e tantos outros”, aos quais Milton Marques e eu nos incorporamos, em nome da maioria dos que fazem a APL, sugere que a nova ponte, a ser erigida no 9,4 km, bem perto da minha casa, deverá ser chamada pelo nome do nosso poeta maior: Augusto dos Anjos. Logo após o condomínio, lê-se um outdoor , que ali será construída a Ponte do Futuro. Mas, chamá-la de Augusto dos Anjos terá mais futuro… Usando palavras de Gil, será consagração, mesmo tardia, maior das merecidas, que lembrará o esquecido por ingratidão, o poeta Augusto dos Anjos. Acreditando em Carlos Pereira do DER, passaremos por ela em meados de 2026, quando se realizarão inúmeros benefícios: Interligará os municípios de Cabedelo, Santa Rita e Lucena, e praias do norte de João Pessoa; desafogará a Br 230, sentido Cabedelo – João Pessoa – Recife; será passagem livre à Br 101, e aproximará a ida a Natal e às cidades e próximas praias do litoral do Rio Grande do Norte.
A Ponte Poeta Augusto dos Anjos será de grande repercussão política, mas sobretudo de homenagem e gratidão à fama e singularidade que nosso vate representa à Paraíba e à literatura ocidental. Mesmo, já diante da incredulidade lírica do poeta, em Versos Íntimos, haverá respeito e gratidão da sua gente…
Graças à vida