Participava de um evento em Maceió e, durante o jantar oferecido às delegações de todo o Brasil, um trio musical, atendendo a pedidos, começou a executar músicas que lembravam cada um dos Estados ali representados. Quando chegou a vez do Paraná, o grupo puxou o fole, afinou o triangulo, balançou o pandeiro e começou a cantar Maringá. Não resisti. Fui ao palco e contei a história que eu conhecia da origem paraibana dessa canção, um dos maiores sucessos do grande Joubert de Carvalho, médico e compositor mineiro, nascido em Uberaba em 1900 e falecido no Rio em 1977.
O próprio Joubert chegou a gravar uma entrevista narrando o episódio: em um ônibus ele encontrou o Chefe de Gabinete do ministro José Américo, que lhe falou do desejo do seu chefe em conhece-lo. Joubert fez galhofa e respondeu que, quem quisesse conhecê-lo, que fosse à sua casa. Para sua surpresa, no dia seguinte, por telefone, é indagado se poderia receber o ministro José Américo. Lisonjeado, acolheu a ilustre visita que vinha acompanhada de todo seu gabinete, conta Joubert, acrescentando: “naquele tempo, Zé Américo estava na moda”. O agradável papo varou a madrugada.
Ainda com a pouca fama de compositor e com um diploma virgem de médico, Joubert almejava conseguir do ministro um cargo no Instituto dos Marítimos, para onde foi nomeado em 1933, chegando a diretor do Hospital. Procurou o gabinete ministerial e ali foi recebido por Rui Carneiro, que exercia a função de Oficial de Gabinete do ministro da Viação de Getúlio Vargas. A sabedoria do paraibano que chegaria ao governo da Paraíba como Interventor e ao Senado Federal até a morte, sugeriu que o médico compusesse uma música com referência à seca, missão salvadora do ministro José Américo naquele momento. Joubert disse que a sugestão falou ao seu “ouvido interno”. Tinha achado o caminho para comover o ministro.
Onde nasceu o Ministro? Indagou de Rui. – Em Areia, respondeu. Joubert desanimou:- Não dá! E você, nasceu aonde? – Em Pombal. -Ah! Aí dá: “Antigamente uma alegria sem igual/ dominava aquela gente da cidade de Pombal/ Mas veio a seca e a chuva foi embora/ Só restando então as aguas/dos meus “oios” quando chora”. Surgiram os versos, de improviso, em plena antessala do gabinete ministerial, afirma o criador de Tahi, sucesso levado ao mundo por Carmem Miranda. O compositor pediu a Rui que citasse outras cidades onde a seca estava castigando. Ele listou algumas e, entre elas, Ingá. Joubert vibrou: imaginou, então, uma retirante chamada Maria, Maria do Ingá, ou melhor: Maringá. “Foi numa leva que a cabocla Maringá/Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar/ e junto dela veio alguém que suplicou/pra que nunca esquecesse/do caboclo que ficou/Maringá/Maringá/ Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste que garrei a “maginar”. Joubert conseguiu o emprego de José Américo mas terminou homenageado a terra de Rui Carneiro.
Uma versão, mais romântica e fantasiosa, encontrei registrada em uma página da cidade de Maringá: “Assim, Maringá recebeu o nome da canção, que por sua vez também tem sua história. Morava na cidade de Pombal, interior da Paraíba, numa ruazinha coberta por ingazeiros, uma linda cabocla de nome Maria do Ingá. Era filha de retirantes nordestinos, dona de uma beleza encantadora, de corpo bem feito, pele morena, olhos e cabelos negros. Maria fascinava a todos inspirando ardentes paixões. Um dia, uma seca inclemente, levou a linda Maria, deixando o político Rui Carneiro desolado de tristeza.
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