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Blog do Vavá da Luz

Evoluindo para o buraco (Adney J.D.Souza)

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Está na iminência de acontecer um fenômeno catastrófico – porém já previsível –  nas pequenas cidades do interior do país: uma implosão. Não uma implosão física, decorrente de alguma sucção vulcânica vinda de dentro da terra; mas um desastre sociológico e antropológico.

Os indivíduos dessas cidades irão sumir pelo simples fato de não se tolerarem mais. De tanto conviverem com os mesmos costumes, hábitos, crenças, descrenças, aspirações, desejos, decepções e sucessos; os espécimes alcançaram o que parece ser o teto máximo evolutivo e começaram a se digladiar entre si, numa tentativa, debalde, de criar espaços novos e diferentes que os coloquem em posição de destaque em relação ao outro.

Nessas pequenas comunidades – habitat de humildes e monótonas culturas -, não existe mais lugar para tolerância e solidariedade. Num processo de seleção não natural das espécies – pois o processo consiste no egoísmo influenciando no sociológico-, os indivíduos começaram, há já um certo tempo, a “matar-se” uns aos outros, através da desconstrução da imagem do outro, para se usar uma palavra da moda, tão ouvida nos debates políticos (mais conhecidos como debates sofísticos – aqueles que buscam apenas vencer o adversário e não buscar a verdade).

Não se elogia mais. Não se apoia mais. Se há uma intenção de elogiar ou apoiar em algum momento, é uma ação puramente superficial ou conveniente, portanto volátil. Hoje o que se vê é a cultura do “quanto pior, melhor”. Para os outros! A desgraça alheia é o que vale; dá assunto; distrai nosso inócuo tempo; nos excita; nos faz superior; e, estranha e sadicamente, nos torna felizes.

 A casa vendida; a dívida não paga e a recém contraída; a filha desonrada; o filho viciado; o casamento desfeito; a(o) amante descoberta (o); o marido alcóolatra; a universidade abandonada; o carro tomado; o atleta promissor que se machuca e entra em depressão; o músico que desafina no solo da valsa durante a retreta; o político preso; o profissional graduado que fala mal e escreve pior ainda; o zero na redação; a perda do emprego.

Tudo isso nos torna motivados a tecer infindáveis comentários, com expressões faciais aparentes de pena e indignação, apesar do sutil e quase imperceptível sorriso nos lábios. Por dentro, aquela “gostosa” sensação de se ver a infelicidade e a queda do próximo. Uma explosão de alegria que lava nossas almas, mesmo diante do infortunado amigo (?) que em lágrimas narra sua triste sorte.

A certeza que o outro está dormindo preocupado ou na pior nos proporciona uma agradável e relaxante noite de sono e sonhos. A falência emocional – e principalmente financeira – de meu vizinho me credencia a crer peremptoriamente que sou uma pessoa melhor, portanto superior, infalível e único. Não basta apenas eu me dar bem, eu quero ter a certeza que o outro se deu mal!

A felicidade, para os poetas, não dá verso! Boas notícias não vendem jornal! O sucesso do outro é humilhante! Passou no vestibular? Porque a concorrência era baixa e é a segunda vez que ele tenta. Noivou? Vai separar logo, pois as famílias não se batem. Arrumou um bom emprego? Foi por causa de política. Carro ou casa nova? Disseram que financiou em infinitas prestações. Comprou uma terra? Foi herança. Cresceu nos negócios? Vende mercadoria roubada. Se formou? Numa universidade privada lá na Sibéria. Se formou numa universidade federal? Soube que passou dez anos para terminar. Engravidou? O pai é o marido mesmo?

Ficamos numa torcida diabólica à espera de mais desgraça, presos naquele vício de nunca avaliar a nós mesmos, pois estamos sempre ocupados em rastrear o comportamento e a rotina alheios. Desta forma, os indivíduos perdem uma grande chance de se unir e crescer juntos, ocasionando o processo inverso do progresso: mentes atrofiadas e a egocêntrica mania de enxergar apenas a si próprio.

A História vem mostrando que sociedades com esse pensamento caíram. A Bíblia nos ensina que atitudes desse tipo nos tornam medíocres. Mas insistimos em deixar nos levar pela força que nos suga para dentro da terra, onde, no Apocalipse, é o lugar onde as almas más queimam no Inferno.

Ádney, 16 de janeiro de 2015.

 

Ádney J. D. Souza

Eng. Civil, MSc, Consultor

1 comentário em “Evoluindo para o buraco (Adney J.D.Souza)”

  1. Matéria pertinente para o momento. A desconstrução das famílias está tomando conta a cada dia da humanidade. Vendo textos bíblicos, vemos a vaticinação que nos finais dos tempos teríamos: matricidas, parricidas e homens que seriam amantes de si mesmos, gananciosos e arrogantes.

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