O Cordel coletivo que repudia a descaracterização do prédio onde estudou o grande escritor brasileiro, José Lins do Rego, na cidade de Itabaiana, Estado da Paraíba, aos poucos vai sendo composto pelos acadêmicos da ACVPB, para o grande recital que acontecerá na 3ª plenária da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, no próximo sábado, 11 de julho, a partir das 14:00 h, no auditório da Academia Paraibana de Letras.
QUEREM RASGAR A MEMÓRIA
DE ZÉ LINS O ESCRITOR
José Lins é de Pilar
Cidade paraibana,
Mas foi em Itabaiana,
Que veio se aprimorar
Na leitura, pra embarcar,
Nesse mundo promissor
Foi poeta e promotor,
E assim entrou pra história;
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
A questão que se apresenta
Mais parece um pandemônio;
Destruir um patrimônio
Da história, a gente lamenta;
Aquele prédio que ostenta,
Um passado acolhedor,
Não deve se decompor,
De maneira aleatória;
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Um nome considerado
Um vate reconhecido,
Um escritor bem polido,
Que orgulhou seu estado;
Preservar esse legado,
E demonstrar seu valor,
Não é fazer-lhe favor,
Mas, sim conferir-lhe glória;
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Aonde o aprendizado
De José Lins teve início,
Sabemos q’esse edifício,
Está pra ser derrubado;
Era pra ser restaurado,
Com carinho e com amor,
É sábio qualquer gestor,
Que age de forma notória;
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
***
Li Menino de Engenho
Do escritor de Pilar
Conhecido além-mar,
Pois escreveu com empenho
Defendê-lo hoje venho
Porque sei que tem valor
Escreveu com resplendor
Viveu momentos de glória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Um ícone da literatura
Escreveu o ciclo da cana;
Estudou em Itabaiana;
Era homem de cultura
Viveu a magistratura
Foi famoso escritor
Do engenho corredor
Seguiu outra trajetória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Foi um grande romancista
O neto de seu Paulino
Um orgulho nordestino
Ponho em primeiro na lista
Escritor regionalista
E um grande pesquisador
Merece respeito e amor
Porque ele tem história
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
***
No céu que cobre Pilar
Nasceu uma grande estrela
Iluminando a janela
Da cultura no lugar
Do Rego, do Rio ao mar
Nos legou grande valor
Mostrando a todo vapor
Os relatos da história
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Escreveu com muito empenho
Sapiência e sutileza
A vida e a natureza
Do Menino de Engenho
Fazendo quase um desenho
Do Engenho Corredor
Deu muitas lições de amor
Sem precisar palmatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Na cidade Itabaiana
Estudou nos Verdes anos
Aprendeu traçar os planos
Em meio ao ciclo da cana
Sua escrita é soberana
Nos romances de valor
Riacho Doce é amor
Uzina e Pureza é glória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Seus romances formam um Rio
Nos maiores aguaceiros
Ao escrever Cangaçeiros
Água-mãe num desafio
O Fogo morto é sombrio
Eurídece o drama e a dor
Totonha é um esplendor
No contar da sua História
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Esse tema desafia
E põe a cultura em xeque
Mais eu vou abrir o leque
Conclamando a Academia
Como escudo de agua fria
No vulcão devorador
A defender esse autor
Na certeza da vitória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
***
Como filho do Pilar,
Da terra de Lins do Rego,
Desfrutando de aconchego
Hoje aqui neste lugar,
Eu não posso me calar
Diante deste clamor,
Vendo tanto desamor
Por quem marcou a história,
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor!
O Instituto onde estudou,
Do Professor Maciel,
Hoje está um escarcéu,
Parte já se derrubou!
O pouco que lhe restou
Espreita o demolidor
Pra seu “progresso” interpor,
Mas tudo isso é vanglória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor!
O prédio que foi cenário
De seu romance Doidinho,
Em outro Estado vizinho
Seria um gran relicário;
Mas aqui se vê o contrário,
Querem negar seu valor,
Passar por cima o trator,
Como se fosse uma escória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor!
***
A cultura se fortalece
Na base da união
Passando de geração
E a vida enaltece
Pois o artista merece
De ter assim mais valor
A arte dispõe seu amor
Na queda ou na vitória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Poeta Esperantivo Esperantivo
***
Se a historia morresse
Grandes homens do passado
Não seriam eternizados
Por alguém que escrevesse
Talvez o homem esquecesse
De sua historia, o autor
Mesmo sem ódio ou rancor
Mude sua trajetória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins , o escritor
–
Vi o menino de engenho
Comendo uma bananeira
Numa cena bem ligeira
Daquele filme ferrenho
Na memória ainda tenho
Lembranças daquele ator
Que com gloria e com louvor
Interpretou a historia
Querem rasgar a memória
De Zé Lins , o escritor
–
Com uma força tamanha
Das águas de uma maré
O Fogo Morto de Zé
Queimou as minhas entranhas
Foram sensações estranhas
Que tive lendo o autor
Pois escrevia com amor
A vida na sua historia
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor
***
Pensando sobre o mundo
Queria ser estrangeiro
E não ser mais brasileiro
Sem desgosto tão profundo
De outra nação oriundo
Da história conhecedor
Pra não ter que viver a dor
Contra ação tão vexatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Digo isso com tristeza
Pois eu amo minha terra
Mas se fosse na Inglaterra
Em paris ou em Veneza
Onde a arte é riqueza
Para um povo que é leitor
Louvado seria esse autor
Conhecida sua glória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
A esse eterno menino
Lá do engenho corredor
De romance um contador
Com seu sangue nordestino
De estilo repentino
De pilar um descritor
Lutarei por seu valor
Pra lembrar sua trajetória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
***
No banco que foi do mestre
Tem memória incrustada
A carteira bem lustrada
Escondendo um ar campestre
E o saber que a investe
Tem seu dote e seu valor
Tem cor, brilho, tem olor
E dá o tom da história
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Eu aqui vou reclamar
Desse ato tão insano
Que escapa a qualquer plano
É ilógico estudar
Quem deseja derrubar
Com força, com desamor
Um espaço de valor
Com destinação inglória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
Se eu fosse o responsável
Por este prédio bacana
Não trocava por banana
Um lugar tão agradável
Eu seria razoável
Em atenção ao valor
Daria trato e amor
Para burilar a história
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor.
***
Eu estou acabrunhado
Com notícia tão tirana
Que na nossa Itabaiana
Ta quase tudo acabado
É a foice e o machado
Derrubando muro e flor
Até a santa no andor
Ta pedindo precatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor.
No antigo Instituto
Do professor Maciel
Formava-se o bacharel
E o poeta impoluto
Sendo assim eu repercuto
Esse atentando, um horror!
É muita falta de amor
Essa ação predatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Já derrubaram sem pena
A casa de Marieta
Uma prefeita cruzeta
Foi autora dessa cena
Uma questão obscena
Demonstrando o despudor
Temos pouco defensor
Para ação conservatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins, o escritor.
***
Foi “Doidinho” ambientado
Nas ruas de Itabaiana
Essa novela humana
Fez Maciel consagrado
Por ele ter ensinado
Ao filho do Corredor
Porém agora essa dor
Da atitude vexatória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Em Porto Alegre se guarda
A Casa Mário Quintana
Porém em Itabaiana
Que já viveu na vanguarda
Usa-se a alabarda
O contrassenso agressor
O laivo destruidor
D’uma alma merencória
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Do autor d’A Bagaceira
Preserva-se a sua casa
E nela o povo extravasa
Na intelectual bandeira
Que vai abrindo clareira
E forjando o pensador
Na Itabaiana, doutor,
Numa ação compulsória,
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
O seu “Menino de Engenho,
“Doidinho”, também “Banguê”
Eu pergunto a você
Onde acharão empenho?
Por isso que pedir venho
Ao IPHAEP um favor:
Não deixe o destruidor
Macular nossa história
Querem rasgar a memória
De Zé Lins o escritor
Foto: Arte Poeta Antonio Costta
Parabéns, academicos ! Muito lindo!
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