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Blog do Vavá da Luz

A vírgula

RAMALHO LEITE

A vírgula, sem tirar nem por, não passa de um sinal de pontuação indicando uma pausa ouseparando os membros integrantes de uma frase. Colocar a vírgula no lugar certo não é para todo mundo. Muita gente, eu inclusive, vou gastando vírgulas até enquanto posso para depois ir economizando. 


Está bem longe o tempo em que minha professora Lourdinha Costa ensinava algumas regras de pontuação e em casa, meu pai ajudava transcrevendo para um caderno, em sua letra aprimorada, aquelas noçõesde como normatizar as disposições das palavras nas frases.
-Não se usa a vírgula entre o sujeito e o predicado; entre o verbo e seus objetos. Usa-se a vírgula para marcar a omissão do verbo e também o nome do lugar, anteposto à data…
Esse nariz de cera vem a propósito do convite de A União para o lançamento do seu novo projeto a partir deste dia 02 de fevereiro, quando completa 118 anos. Fui levar em mãos o convite a Juarez Farias e quem quiser ficar em paz com os seus erros, não os mostre a Juarez. Ele contestou de imediato a posição das vírgulas. Procurei justificar que as vírgulas estavam a separar, como dizem os portugas,uma oração intercalada, mas não adiantou. Tive que me render aos argumentos. O homem preside a Academia Paraibana de Letras.
Outro impaciente com as vírgulas, este em sua forma oral era Zé Dantas. Nascido em Pilõezinhos, andado pelo mundoe no final da vida vereador em Borborema.Era um contador de histórias.Gostava de falar e ser ouvido sem interrupções e, quando isso ocorria, o interlocutor era severamente admoestado:
-Não me aparteie em vírgula!Espere que eu façaponto!
Preocupado com a sintaxe e vaidoso com seus escritos, Pedro Gondim não perdoava o erro cometido quando escrevia. Mesmo “escondido” sob o pseudônimo de Homero Morgon, mantinha a mesma responsabilidade gramatical em seus textos tidos pela oposição como rebuscados e de difícil interpretação.
Na véspera do Natal de 1964, o então Governador da Paraíba enviou sua Mensagem de Fim de Ano para publicação no Jornal do Comercio e no Diário de Pernambuco. Naquela época, a opinião pública se aquartelava no Recife e esses periódicos alcançavam grande circulação.
Nesse tempo eu incursionava pelo jornalismo vinculado à Sala de Imprensa do Palácio, embrião da SECOM de hoje. O jornalista José Barbosa de Souza Lima me mandou chamar para uma missão do Governador. Ele cometera um equívoco (pois Governador não comete erro) e colocara uma vírgula em local indesejado na sua mensagem natalina. Não existia internet, muito menos fax e o telefone era questão de sorte.A correção tinha que ser à mão, de corpo presente.
Parti para o Recife no avião do Estado. O piloto Jorge com sua competência me deixou nos Guararapes em meia hora. Peguei um carro de praça que na capital pernambucana já se chamava Taxi e fui à redação dos dois respeitáveis órgãos de imprensa do estado vizinho. No setor de revisão, pedi para ver o texto, retirei as vírgulas e regressei ao avião. Perto das cinco horas, pousei no Aeroclube. 
Foi a vírgula mais cara de que tive notícia. Mas o que não se faz para deixar um governador satisfeito?… (Do livro Em Prosa e no Verso)