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Blog do Vavá da Luz

TIÃO LUCENA EM O boi da eleição

O boi da eleição


 

Houve um tempo em que eleição era um inocente exercício de encher o bucho. Alcancei esse tempo na minha Princesa, antes da justiça eleitoral proibir os candidatos de darem comida ao eleitor na hora dele ir à cabine indevasável depositar seu voto. Besteira, proibiu o boi da eleição e permitiu a boiada da corrupção.

 

 

Mas voltemos ao tempo do encher o bucho.

 

Em Princesa havia duas alas políticas -a dos Nominando e a dos Pereira – que caprichavam no dia da eleição no preparo da comida. Matavam dezenas de bois, cozinhavam a carne em enormes panelas e serviam em pratos de estanho com farofa d`água regada a cebola. Era um prato saborosissísmo, pude constatar várias vezes. A carne tinha gosto diferente, sabor de quero mais. A maioria daquela gente só comia carne no dia da eleição e por isso aproveitava para ficar empanzinada.

Meu pai era eleitor dos Nominando e por isso eu, embora menino, entrava na fila dos comensais da casa de Maria Aurora. Nem ligava para o tamanho da fila, pois, invariavelmente, havia sempre uma matuta de bunda grande na minha frente permitindo um esfregão nascente naquele aperto gostoso. E quando comia o primeiro prato, sempre voltava para o segundo prato e o segundo esfregão.

Outros mais espertos comiam nas duas casas, prometendo votos aos dois lados. E comiam tanto que alguns sequer reuniam forças para ir votar. Dava na fraqueza e arriavam nos oitões da igreja, dormindo o sono dos justos e bem alimentados.

Com Antonio Belo aconteceu parecido naquela eleição de 1968. Comeu doze pratos de carne na casa dos Nominando. Deve ter comido igual quantia na residência dos Pereira, de modo que saiu para votar andando de um jeito estranho, prendendo as pernas, segurando o bucho, se torcendo.

Quando chegou na secção eleitoral, deram-lhe a chapa e ele entrou na cabine. Naqueles ontens a cabine parecia uma tenda de pano, hermeticamente fechada. O acesso era por uma portinha com dobradiça e tudo. Antonio Belo entrou nela, fechou-se e danou-se a demorar. Depois de quase uma hora de espera, o presidente Durval Campos, do alto da sua autoridade, dirigiu-se à cabine e puxou o trinco da porta.

Não conseguiu abrir mas deu para ouvir o recado lá de dentro, enviado por um Antonio Belo de voz espremida:

-Tem gente!