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Blog do Vavá da Luz

TIÃO LUCENA EM : A Lei da Mordaça

A partir de sexta-feira o jornalista de política vai ter que se cuidar para não entrar na caneta da Justiça Eleitoral. Não poderá gemer, piar, achar isso assim ou aquilo assado. Olhos vigilantes estarão abertos, prontos para dar o bote ao menor escorregão. Será implantada a ditadura da mordaça, e ai de quem ousar sair da linha.

 

Claro que a Justiça segue o que o legislador cria. Deputados e senadores inventaram as amarras, elaboraram as mordaças, a Presidência da República sancionou, o negócio foi publicado, virou lei. Aos magistrados resta aplica-la, principalmente em cima de nós, perigosos bandidos da comunicação.

 

Na eleição passada fui réu em duas ações do Ministério Público Eleitoral. Meu crime: publicar enquete num blog caseiro sobre as preferências eleitorais. Zé Maranhão e Ricardo Coutinho disputavam o Governo, Cássio, Efraim, Santiago e Vitalzinho o Senado, eu perguntei em qual deles o eleitor votava, os homens acharam que eu ferira a lei, meteram o processo, me saí num, me lasquei no outro sob o argumento da reincidência, e fui condenado a pagar uma multa maior do que aquela aplicada no presidente Lula. Dois anos antes, lá de Princesa, veio uma ação semelhante assinada por um secretário de Educação que não podia advogar para o prefeito ao qual servia, aleguei isso na minha defesa, mas os olhos vendados da Justiça só viram o crime por mim cometido.

 

De modo que, a partir de sexta, estou propenso a mudar o rumo das minhas escritas. Em vez de análise política, que tal receitas de bolo, de como cozinhar um cabrito no vinho suave, depois come-lo com feijão verde, pimenta malagueta e cuscuz? Também tenho a opção de enveredar pelo colunismo festeiro, falando das recepções soçaites da fina flor do abacaterol, omitindo, claro, nomes de possíveis aspirantes a cargos eletivos, pois se assim não o fizer corro o risco de ser confundido com algum propagandista eleitoral.

 

Serão três meses, três longos meses, mas a gente escapa. Melhor assim do que ficar recebendo a visita inoportuna do oficial de justiça aqui em casa, tocando a campainha com os mandados judiciais exatamente na hora do almoço, como se fosse de propósito, como se quisesse dizer: “Hoje você não come, e se comer, fica entalado de raiva.”