A Greve e o Cadeado
Meninos eu vi, não me contaram, esses dois olhos presenciaram tudo, bem direitinho. Em Patos, em Sousa e em Juazeirinho, por onde passei na manhã desta quarta-feira, as portas dos prédios da Receita Estadual estavam acorrentados e vedados por enormes cadeados. Parecia até que cadeias foram colocadas em seus lugares.
E eu fiquei a pensar: a greve é dos agentes do fisco ou dos prédios públicos? Porque, se a greve é dos agentes, como de fato é, aos grevistas não cabia fechar o que não lhes pertence. Mas fecharam. Passaram grossas correntes nas portas e vedaram as correntes com enormes cadeados.
Aos grevistas, acho eu, caberia não irem ao trabalho, ficarem em casa ou nas praças divulgando sua greve. Fechar os prédios públicos, impedindo o acesso, não foi uma boa prática. Ora, a gente só tranca a porta da nossa casa. Da casa dos outros não nos é permitido. E o direito de ir e vir previsto na Constituição, onde o enterraram?
Até combater quem furar a greve, os líderes do movimento têm o direito. Mas que o façam de forma mais democrática. Nunca trancando a porta da casa onde se abrigam eventualmente. A repartição é pública e como pública deve permanecer, dando ao cidadão que nada tem a ver com a greve o direito de abrir as suas portas e tentar ser atendido.
Os grevistas jogaram uma bola fora. Na ansia de encontrar uma pretensa unanimidade, terminaram exibindo uma face autoritária que em nada ajuda ao movimento deles.
Não quero aqui discutir a justiça da greve.Os fiscais sabem onde o sapato aperta. Se eles ganham muito, como dizem, ganham porque merecem. Se querem mais, nada mais justo também. Os ministros do Supremo ganham muito mais e não estão satisfeitos. O que discuto e disso não abro mão, é o abuso, o mando, quero e posso, esse gesto antipático de se apossar de um imovel público e passar a chave na porta, trancando tudo como se a Paraíba fosse uma casa de noca, um mafuá, uma feira de mangaios, um beréu.
Tião Lucena
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