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SALVE SÃO JOSÉ! ( Marcos Souto Maior)

 

                                               O tempo vai passando e a seca impiedosa acumula imensuráveis prejuízos para o agropecuarista nordestino. E a famigerada e criminosa “indústria da seca” continua sabotando e desviando, o pouco das verbas públicas liberadas para o flagelo da falta d’água.

                                               A imagem deixada no campo esturricado do meu sertão mostra a carcaça dos bichos mortos com sede e fome. O verde dos campos é trocado pelo cinza da terra desprezada e inservível! Nem os urubus conseguem achar o que comer…         

                                               Chegam até a pensar que o nordestino esqueceu sua bravura histórica e fiel ao chão seco de quem depende a sobrevivência diária. O pouco dinheiro disponibilizado pela nação, não chega para quem precisa sobreviver. A meninada sertaneja não tem mais força para enfrentar léguas de distância até a escola pública da região.

                                               Estamos numa verdadeira remandiola sem fim, onde a triste esperança do povo não passa de promessas eleitoreiras, em visitas festivas de autoridades públicas num escárnio para os que sofrem e lutam pela própria sobrevivência. Um desafio que vai além da realidade!

                                               Mas tem lugar que não falta água limpa e geladinha, comida à vontade, escolas públicas funcionando e com direito à merenda escolar, pessoas com a pele sedosa, envoltas em roupas de grifes, com carro “chapa branca” e avião à disposição, onde não se enxerga, nem de longe, o inferno nordestino do meu povo.

                                               Paro no tempo, direcionando minha mente para abrir espaço à imaginação! Não me conformo ver meus conterrâneos chorar sem ter lágrimas, deixando escorrer no rosto de pele rajada pelo sol causticante…

                                               Ah! Lembro-me que hoje é dia 19 de março, data de grande significado para os cristãos. É o dia consagrado a São José, personagem bíblica no Novo Testamento, pertencente à tribo de Judá e, carpinteiro por profissão.

                                               A sabedoria popular acredita que o operário São José, na contrita devoção de garantir um inverno, sempre trás alentos para voltar a chover.           Entre os prognósticos negativos dos técnicos em pluviometria, coincidindo com o equinócio, prefiro confiar de peito aberto em São José, pela inabalável força cristã emanada dos corações aflitos do meu nordeste.

                                               Crer fielmente em São José é simplesmente se enquadrar aos dois bilhões de católicos espalhados em todo mundo. Ademais, quando todas as opções materialistas foram desviadas criminosamente e jogadas fora, pela janela dos fundos da pública administração, qualquer opção é sempre bem vinda.

                                               O cansaço e decepção com os homens públicos abre espaço para ter fé em São José, que faz milagres e não custa nada!

(*) Advogado e desembargador aposentado