O descompromisso do brasileiro com a preservação dos espaços públicos não faz acepção de classe social.
Acho que você já testemunhou cena semelhante: o carro é importado, de última geração e cada linha do designe denuncia que deve ter custado um punhado de dólares.
Subitamente os vidros automáticos da super máquina baixam e uma revoada de garrafas é arremessada na rodovia.
Estou ilustrando com a tripulação de um carro importado, mas a verdade é que, seja em uma Ferrari ou em um Fusca, o descompromisso do brasileiro com a preservação dos espaços públicos não faz acepção de classe social.
Dos mais privilegiados – que teoricamente tiveram acesso a educação de melhor qualidade – aos excluídos sociais, o comportamento plural denuncia que não basta ter dinheiro para ter cultura.
Raciocínio análogo se aplica ao País.
Pois a nação é, na verdade, semelhante ao cidadão. E ao Brasil não basta colecionar aumentos do seu Produto Interno Bruto para ser reconhecido como uma nação de primeiro mundo.
É preciso – concomitantemente – levar a população para outros níveis de riqueza – entre as quais a cultural é estratégica e indispensável.
Aliás, com uma população de mais de 200 milhões, PIB generoso é consequência natural.
Mas as ruas apinhadas de lixo, prédios públicos pichados e veículos de massa depredados mostram que há um descompasso entre o Brasil que avança economicamente com o que patina culturalmente.
Aliás, ouso dizer que ao invés de avançar, (desculpem o neologismo) “involuímos”.
Achados arqueológicos mostram que já fomos mais educados.
É sério.
Grupos pré-históricos, por exemplo, tinham como hábito recolher e descartar em pontos estratégicos os restos dos alimentos consumidos pela comunidade.
Uma das estratégias adotadas por arquélogos para catalogar indivíduos que podem ter dado origem à população do “novo mundo” é justamente a localização dos depósitos de descartes humanos feito pelos grupos.
Sambaquis são um desses acontecimentos geológicos que confirmam a organização social que nossos antepassados tinham e, aparentemente, não herdamos.
As pilhas de conchas de ostras, “menu” predileto das comunidades pré-históricas – sempre depositadas em locais pré-determinados – mostram de forma inequívoca que, há cerca de 16 mil anos, tínhamos mais senso de organização social.
Passados tanto tempo, toda a extensão litorânea do País retrata, como um cartão postal às avessas, que ainda temos um bom caminho a trilhar até que o Brasil – e os brasileiros – sejam reconhecidos como uma pátria de primeiro mundo.o com
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