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Quero a minha João Pessoa de volta (por Tião Lucena)

A maioria dos meus colegas de imprensa não nasceu aqui em João Pessoa. Somos todos aranchados na capital, vindos dos interiores. Cito, de decoreba,Anco Márcio e Marcos Tavares, que vieram do Ingá; Agnaldo Almeida, nascido em Campina; Chico Pinto, que botou a cara no mundo em Itaporanga e criou-se em Sousa;            Jackson Bandeira, Gutemberg Cardoso, Nonato Guedes, Lenilson também Guedes, Josival Pereira e Lena Guimarães, todos de Cajazeiras; Josinato Gomes, o falante de Iporanga; Barbosinha, lá de Alagoa Grande; Paulo Santos, do Amazonas; Giovani Meireles, de Sapé;Euflávio, de Santana dos Garrotes; Nelson Coelho, de Santa Luzia; Clotilde Tavares, de Campina; Welligton Farias, de Serraria; Kubi Pinheiro, de São José de Piranhas; meu querido Abelardinho, do Rio; Miguezim e Edmilson Lucena, de Princesa; Antonio Malvino, de Sousa; Gonzaga Rodrigues, de Alagoa Nova; Rubens Nóbrega, de Bananeiras; Helder Moura, de Campina e fiquemos por aí porque se for para dizer quem é de fora, aqui morando, uma coluna só não basta.

Todo esse mundo de gente chegou na Capital feito matuto e em pouco tempo adotou a cidade como sua segunda casa. Eu mesmo, que neste chão plantei sementes, gerei filhos e já tenho netos, não quero outra terra para morar, trabalhar e morrer. João Pessoa é a cidade mãe de todo mundo, aquela mãezona que não escolhe filhos para fazer mimos, conseguindo presentear amor a todos de um só tamanho, seja filho nascido do seu ventre ou adotivo.

A cidade, porém, tem mudado muito com os tempos. Ela não é mais aquela paisagem de sossego que nos deixava a vontade para caminhar por suas ruas durante as madrugadas, sem medo de violência. Hoje nem conversar nas calçadas se pode mais. Vivemos aprisionados em casa, grades enormes fechando as fachadas, cachorros ferozes protegendo os quintais, porque a morte anda solta nas ruas a cata de vítimas. Os homens da moticicleta assassina assombram o povo, matando gente todas as noites. Ontem a noite, aqui perto em Mandacaru, detonaram um rapaz de 21 anos. Pipocaram a cabeça do pobre, deixando-o no asfalto esvaindo-se em sangue, a vida dando adeus quando deveria estar chegando com o desabrochar da mocidade.

A polícia fiscaliza, diz a televisão. Mas enquanto os bandidos matam em Mandacaru, a polícia amolega os quartos dos “marginais” de Bayeux e Santa Rita. Assim também é demais.

Gostamos de João Pessoa, adoramos esta terra, mas ela precisa voltar a ser o que era: pacata, ordeira, silenciosa, amorosa, reduto de boêmios e de putas inocentes, abrigo de bares noturnos e cabarés sem malícias. É disso que precisamos e cabe aos homens da segurança tornar tal coisa possível, desde que comeceM a fazer o dever de casa, prendendo os motoqueiros assassinos, em vez de tapear nossas vistas com operações teatrais realizadas em Bayeux e na Tabaca da Burra.