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Blog do Vavá da Luz

Quer ser importante? Roube! (por Tião Lucena)

Roubar no Brasil é bom, dá status, dá posses, enrica o sujeito e o torna famoso. Veja os exemplos: os ladrões brilham na ribalta, enquanto os bêstas que percorrem o caminho da honestidade ficam na sarjeta da ignorância. Quer ser importante, imponente e exaltado no Brasil? Então roube, homem. Mas não vá roubar galinha, pão de caixa e mortadela para matar a fome, porque isso não é roubar. Roube muito. Roube o dinheiro das criancinhas, dos velhinhos, dos aposentados, dos chamados carentes. Roube, leve para casa, divida com a família e depois vá curtir. Garanto que logo, logo, você será convocado para ocupar um cargo importante na administração pública, ou então será convidado a disputar uma governança, uma senatória, uma prefeitura ou um mandato parlamentar de deputado federal, estadual ou vereador. 
Não pense que    vai progredir fazendo da política um sacerdócio, porque não vai. No Brasil não vai, garanto. Desde a fundação de nossa terra que a pancada do bombo é esta. Lembra Rui Barbosa? Pois então me diga se não estou certo. O baixinho de cabeça grande era honesto até a medula e por isso não foi eleito presidente. Seria um atrevimento elege-lo. A Presidência tinha que ser exercida por gente vibrante e gatuna, não por Rui Barbosa que, se chegasse lá, acabaria a festa da mamata.

Por isso roube, superfature, burle concorrências públicas, sonegue impostos, cobre comissões de 20 por cento para liberar o que não é seu, bote a família inteira para trabalhar na mordomia, em suma, pinte o sete, desenhe o oito e faça o quatro do carnaval, que vai se dar bem, vai brilhar, encantar, virar artista, ser paparicado, cheirado, amado e chamado de santo.


No Brasil tem que ser assim. Pode prestar atenção que concordará comigo. O brasileiro, principalmente o que não rouba e teima em ser honesto, tem uma mania feia de exaltar o ladrão. Todo ladrão de gravata vira santo na ótica do povo brasileiro. E quanto mais ladrão, mais importante é. Os exemplos são muitos, desde aqui de nossa terra até as outras plagas brasileiras. Por isso apague da cabeça essa idéia de ser bonzinho, pagador de impostos, cumpridor de deveres e marido de uma mulher só. Isso é coisa para quem não quer brilhar, ser grande, vibrante e importante.

Mas se tudo isso que eu lhe disse não servir para mudar seu jeito de ser e agir, então se conforme com a vida lascada que o espera, a conta da energia atrasada, a Energisa na sua porta querendo cortar a luz, o colégio do menino que ficou para o mês seguinte, a mulher espiando o céu em busca de uma luz e o salário, que vive congelado, minguando a cada dia, sem dar para quase nada além da feira pelada. Só um consolo lhe restará: você terá, pendurado na parede de sua casa e marcado na lembrança dos seus filhos, um diploma de honesto. Pode não ser muita coisa, mas quem sabe se lá diante do Justo e Juiz de todos nós tal diploma não será seu indulto para a vida eterna?

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