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Quando acusar irresponsavelmente é o maior dos crimes

 

O que fizeram com o pai das duas meninas mortas em João Pessoa por ingestão de plantas venenosas foi um estupro moral, uma violência irreparável.
Diante do sofrimento de perder duas filhas, o cidadão foi preso sob acusação de tê-las estuprado. Simplesmente porque a mãe disse ter deixado as duas crianças com ele durante todo o dia e, ao chegar em casa, encontrou-as debilitadas e com sangramento vaginal.
A imprensa, bebendo em fontes diversas, deu verniz à suposta história de terror. No Twitter, as pessoas não esperaram laudo policial algum e foram logo sugerindo execução sumária do suposto pedófilo em praça pública.
Claro que num mundo infestado de maníacos, a tese não é difícil de ser digerida. Como diria Balzac, o jornalismo torna verdade tudo aquilo que é provável.
Mas, desta vez, não era verdade. Laudo da Polícia Científica confirmou que as meninas foram mortas por causa da ingestão de substância venenosa.
O pai, detido desde a quinta-feira, lutando contra a dor da perda e a injustiça da acusação, foi liberado.
Mas, certamente, deve estar mais morto do que vivo. A irresponsabilidade da acusação indevida gerou uma cadeia de culpados. Imprensa, hospital, polícia e sociedade foram todos arrastados pela obscuridade das evidências.
É preciso que as fontes sejam mais responsáveis na divulgação de suas notícias e nós, jornalistas, possamos cada vez mais dispor de tempo para apurá-las.
Na ânsia de dar o furo jornalístico, se divulga a primeira versão, mesmo sendo ela a mais mentirosa possível. Torço pra que um dia eu, meus colegas de imprensa e todo aquele que produz informação possamos esperar pra dar o furo da verdade do fato.
Porque neste caso específico o melhor trabalho jornalístico foi do repórter que descobriu e divulgou primeiro que a morte das meninas foi por envenenamento. Quem divulgou primeiro que teria sido por estupro não deu um furo. Cometeu um crime.
Pra anotar, não há como fugir da sentença de que o melhor jornalista não é aquele que divulga o fato primeiro. Mas o que divulga a verdade depois.
Luís Tôrrres

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