magens e documentos reunidos pelo Ministério Público Federal mostram a promotora de Justiça Deborah Guerner, afastada do MP do Distrito Federal, numa suposta tentativa de utilizar a morte dos pais para simular uma doença mental. O objetivo seria escapar de punições no caso do esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM de Brasília, no qual ela estaria envolvida.
Materializada em 105 páginas, a documentação obtida pelo repórter da TV Globo Vladimir Netto indica que Deborah Guerner e o marido, o empresário Jorge Guerner, contaram com a ajuda do psiquiatra paulista Luis Altenfelder Silva Filho para tentar comprovar a tese de insanidade mental da promotora.
Vídeos do encontro da promotora com o psiquiatra, registrados pelo circuito interno da casa de Guerner e apreendidos com autorização da Justiça, mostram detalhes de reunião entre o casal Guerner e o psiquiatra na residência da promotora.
Por telefone, o psiquiatra informou à TV Globo que os advogados dele ainda não tiveram acesso à denúncia e que, somente depois disso, ele irá se manifestar sobre as acusações. O advogado de Deborah Guerner informou que ainda não viu as imagens e que, por isso, não pode falar sobre elas. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou que abrirá sindicância para apurar o caso
Denúncia
“Após chegar à residência do casal Guerner, os denunciados Jorge, Deborah e Luis Altenfelder se encaminham diretamente para o escritório daquela residência com a finalidade de se planejar os ilícitos”, registra a denúncia elaborada pelo Ministério Público.
O encontro ocorreu entre a noite do dia 29 e a madrugada do dia 30 de agosto e teria a finalidade de preparar Guerner sobre como proceder durante a perícia médica a ser realizada em 30 de agosto de 2010 no Instituto de Medicina Legal de Brasília, diz a denúncia do Ministério Público.
São os diálogos desse encontro que revelariam a intenção do casal, preso desde a semana passada, de utilizar as mortes do pais da promotora como justificativa para a suposta insanidade mental. Na conversa, o psiquiatra orienta: “Aí, o que você faz: segura (incompreensível) meu pai é tudo pra mim… você tem que falar com espontaneidade: ‘Com o falecimento do meu pai, que era tudo pra mim’.”
O marido de Guerner, que acompanha a conversa sugere como a promotora deve descrever o pai: “E protetor, porque ela considerava ele um protetor.” A própria Guerner complementa: “Ah! Ele era ‘costa quente’ total!”.
O médico psiquiatra continua a ensinar o que Deborah Guerner deve dizer, e a própria promotora anota as orientações: “Que com o falecimento do seu pai, aí sua vida mudou! ‘Daí, minha vida mudou, tornou-se arrimo de família… Tornou-se arrimo de família… e… passou… a apresentar…’”
Deborah Guerner sugere dizer na perícia que, com a morte do pai, “perdeu o chão”. “E eu perdi o chão!” O médico concorda: “’Quando meu pai morreu, eu perdi o chão’ – você fala! ‘Que eu fiquei muito, muito, muito, triste. Perdi a alegria, pedi o domínio…’”
O marido de Guerner sugere que ela lembre a morte da mãe: “Aí a mãe vem e morre. Depois ela, aí que ela desabou! (sic).” Debora Guerner sugere: “Aí eu fiquei, hummmmmmm, muita responsabilidade, porque minha mãe nunca na vida tinha nem assinado um cheque. Muito triste e comecei a pressão da vida em cima de mim.”
Além dos diálogos, o Ministério Público Federal acusa o médico de Guerner de fornecer laudos e atestados falsos para justificar a doença e compara a análise do psiquiatra. “A fim de comprovar a suposta insanidade mental aqui relatada, a defesa da denunciada Deborah Guerner providenciou a juntada de atestado médico, relatório médico e laudo médico”, registra o MPF.
Sobre os laudos, o MPF afirma: “São categoricamente diversos do que elaborado e apresentado pela perícia judicial através de exame realizado por determinação judicial”.
Na denúncia do MPF, a promotora também é orientada a utilizar roupas extravagantes, coloridas e exibir comportamento “pavio curto”. “Posso falar eufórica?”, pergunta Deborah ao psiquiatra. “Pode. Muito excitada, eufórica e com o pavio muito curto”, responde o médico.
“Não tem erro, e qualquer residente de primeiro ano de psiquiatria, ouvindo você, vai falar assim: ‘essa menina é bipolar’”, diz o psiquiatra.
Processo
Deborah Guerner foi afastada em dezembro de suas funções no MP do DF. Além das ações na Justiça, ela responde a um processo disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que pode aprovar sua demissão do serviço público. Guerner ainda recebe salário
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