Pular para o conteúdo

PROFESSOR LUCIO FLAVIO EM : Pesquisolatria

Lucio Flávio Vasconcelos é Doutor em História pela USP, professor da UFPB e atualmente Chefe da Casa Civil do Governo da Paraíba

A palavra que dá título a esse artigo não existe, prezado e atencioso leitor. Cumpri minha obrigação: consultei o “Aurélio” e depois o google e não a encontrei, pelo menos da forma como quero apresentar e interpretar.

Nos últimos meses, temos assistido uma verdadeira idolatria às pesquisas eleitorais. Elas têm causado alegria em alguns e tristeza em outros. Excitação ou abatimento, dependendo da posição em que o candidato da sua preferência esteja nas tais pesquisas “científicas”. A euforia ou depressão dura até a próxima pesquisa, quando pode haver inversão de números e humores.
As pesquisas nasceram com a ascensão do capitalismo e, em geral, buscam aferir gostos e tendências de consumo da população. O mercado, ávido por consumidores, pesquisa no seu público-alvo qual a marca de xampu ou modelo de automóvel com maior aceitação. Assim, através de “métodos científicos”, somos cotidianamente sondados para indicarmos o melhor caminho para a produção da mercadoria que alcançará maior vendagem.
Psicólogos, antropólogos, sociólogos, jornalistas são contratados por empresas especializadas, não apenas para perscrutar o que passa nas cabeças e corações dos consumidores, mas, cada vez mais, para direcionar tendências, criar modas, estimular gostos e induzir decisões.
 
Com as pesquisas eleitorais o processo é semelhante. As análises quantitativas e qualitativas feitas com os eleitores obedecem ao mesmo princípio e têm o mesmo intuito: captar a tendência do eleitorado em momento específico e formular estratégias de convencimento para a aceitação de determinado candidato.
Pela profusão de pesquisas eleitorais e a disparidade nos resultados, percebemos que alguma coisa está errada. Em virtude dos equívocos apresentados por algumas pesquisas, elas começam a perder credibilidade e força junto ao público-alvo: o eleitorado. Ressabiado pelas constantes oscilações nos resultados, o eleitor lança um olhar desconfiado para as aferições eleitorais realizadas pelos grandes institutos de pesquisa.
Mesmo sofrendo acusações de serem “manipuladas” e “tendenciosas”, críticas feitas por aqueles que se sentem prejudicados com os resultados, as pesquisas eleitorais continuam sendo realizadas. Mesmo enfrentando uma descrença colossal, por que se gasta milhares de reais com a realização de tantas pesquisas? Por que elas são publicadas e festejadas por aqueles que aparecem na frente dos concorrentes? A resposta está na intenção política e obedece a três princípios básicos.
Em primeiro lugar, pesquisas científicas têm revelado que 10% do eleitorado vota no candidato que vai ganhar. Muitos eleitores “não querem perder o voto”, daí a opção por aquele concorrente que esteja à frente na disputa eleitoral. Em pleitos acirradíssimos, como os ocorridos na Paraíba nos últimos anos, 10% da preferência do eleitorado é um número expressivo, que separa a derrota da vitória.
Em segundo lugar, aparecer no topo das pesquisas dá ânimo renovado nos aliados e assegura uma maior coesão do grupo. Afinal de contas, grande parte dos políticos pensa como aqueles 10% do eleitorado que já foi referido: vota naquele postulante que a pesquisa indica como favorito. Além disso, manter-se na frente das pesquisas atrai novas adesões de partidos e grupos sociais.
Por último, como é notório, campanha eleitoral é algo extremamente caro. Os programas de rádio e TV, os assessores, os cabos eleitorais, o material de divulgação, os comitês eleitorais, os deslocamentos de equipe, os comícios (para ficarmos apenas no que é lícito) custa uma fortuna. Os possíveis financiadores, geralmente empresários que preferem o anonimato, não querem investir em quem as pesquisas indicam que vai perder. De olho em seus futuros lucros, os empresários também balizam seus investimentos em pesquisas eleitorais.
Por tudo isso e muito mais é que as pesquisas são tão idolatradas pelos profissionais da política. O seu culto possibilita o acesso à “cientificidade” dos resultados. Elas são exibidas como verdades absolutas, imutáveis. Mas para que isso ocorra, é necessário que a população também passe a adorá-las com revelações absolutas.
Sabemos que, mesmo as pesquisas mais sérias e equilibradas, apenas revelam o momento, o instante em que o eleitor expressa a momentânea preferência por determinada candidatura e que isso pode ser alterado, principalmente quando começar, de fato, a campanha eleitoral televisiva e radiofônica.
Por isso cabe lembrar a história recente da Paraíba. Em 2010, “pesquisas científicas” pululavam em jornais e blogs, apontando o favoritismo de determinado candidato. Os pretensos secretários já estavam comprando novos ternos e renegociando velhas dívidas, de olho nas futuras nomeações. Quando as urnas foram abertas e o voto popular apurado, o resultado foi totalmente diferente do que vinha sendo anunciado. Como diria qualquer jogador experiente, a partida mal começou.