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Blog do Vavá da Luz

Parahyba: Passado e Futuro

Lucio Flávio Vasconcelos é Doutor em História pela USP, professor da UFPB e atualmente Chefe da Casa Civil do Governo da Paraíba

Eles eram portugueses, espanhóis, franceses, potiguaras, tabajaras, cariris, holandeses, africanos. Todos esses povos enfrentaram disputas ferrenhas entre si para dominar a Paraíba. Nascemos da cobiça, da guerra e da dor num cruento período de história. Foram senhores e foram escravos, dominantes e dominados que sofreram e gozaram nessa terra de esperança. Ao longo do processo, foi edificada uma sociedade de múltiplas faces e com forte presença no cenário nacional, nos campos das artes, da política e da cultura.

Terceira cidade mais antiga do Brasil, a Paraíba foi palco de inúmeros acontecimentos que marcaram profundamente a história do país. Fundada em 1585 por tropas portuguesas e espanholas, sofreu diversas invasões de franceses e holandeses. Europeus conquistadores, ameríndios rebelados e negros insurgentes se digladiaram e se amaram ao longo dos 427 anos de história.
A Paraíba é resultado inacabado de paixões ocultas e ódios declarados, conflitos abertos e acordos secretos, revoluções e rebeliões, traições e lealdades, religiosidades e profanações, espertezas populares e maquinações elitistas, poemas de Augusto dos Anjos e Lau Siqueira, grandiosidades literárias de José Lins do Rego e Ariano Suassuna, pinturas artísticas de Pedro Américo e Clóvis Júnior.
A Paraíba foi fundada a partir da ambição ibérica e da resistência indígena. Num período de onze anos, entre 1574 e 1585, cinco expedições foram lançadas, a partir da Capitania de Itamaracá, com intuito de conquistar o território paraibano. Tomando conhecimento da Tragédia de Tracunhaém, quando os ameríndios dizimaram a população portuguesa que lhe tomara a terra, e receoso de que os franceses se apossassem da região, El-Rei D. Sebastião ordenou que a Paraíba fosse ocupada e os ameríndios subjugados.
Tabajaras aliados e Potiguaras subjugados. No final do período colonial, todos os ameríndios haviam sucumbido à saga conquistadora dos ibéricos. Depois foram os holandeses que aqui aportaram. Chegaram em 1634, desejosos de enriquecimento rápido numa vida tão fugaz. Foram expulsos pela força dos habitantes locais, liderados pelo paraibano André Vidal de Negreiros 
O doce açúcar, riqueza principal produzida nas terras paraibanas, foi fruto da exploração do trabalho escravo indígena e africano. Pelas ladeiras do Varadouro, na cidade baixa, homens e mulheres derramavam sangue e suor para o poder, fausto e ostentação dos senhores de engenho.
Tivemos revoluções. Em 1817, o grito republicano e separatista ecoou profundamente nos corações de poucos visionários. Quando a repressão da coroa se fez presente, massacrando os rebeldes, o jovem Peregrino de Carvalho, com apenas 19 anos, foi enforcado, esquartejado e partes do seu corpo expostos para servir de exemplo.
Em 1930, a Paraíba eclodiu em protestos pela morte do presidente João Pessoa, momento mais dramático da nossa história. A revolução começou aqui e espalhou-se por todo o país. Milhares de paraibanos se engajaram na construção de uma nova ordem. Paixão e política sempre foram os nossos impulsos e nossos desejos. Dura e fascinante sina.
Vivemos momentos difíceis, como no passado. Nossa história está aprisionada em uma redoma de atraso, tanto no campo social como no político. Temos uma parcela da elite que quer nos manter numa estagnação perpétua, fortes amarras do seu poder.  Também como no passado, nos cabe sonhar e trabalhar, de forma corajosa, justa e ordeira. Dentro dos limites necessários da democracia, temos o dever de ousar e resgatar o espírito da indignação para construirmos um futuro muito melhor.