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Blog do Vavá da Luz

‘Pagou, não passou’; leia novo artigo de Roberto Cavalcanti

 

  • Roberto Cavalcanti
Roberto Cavalcanti

 

Recife, Parque Amorim, Escola Experimental Governador Barbosa Lima. Foi nesse endereço, e nessa escola pública, que frequentei todo o primário.

Naquela época, eram nas escolas mantidas pelos governos que deveriam estar alunos aplicados nos estudos. Eu era. E procurei fazer jus à vaga conquistada nos concorridos bancos escolares pÚblicos.

Os displicentes se matriculavam na rede privada, onde um punhado de instituições – já naquele tempo – era reconhecida jocosamente como “pagou, passou”.

O colegial chegou e fui levado para a escola privada, mas em um raro segmento que não admitia (e até hoje não admite) que o carnê de pagamento da mensalidade influencie no preenchimento do boletim. A rede religiosa de ensino não dizia amém para os gazeteiros.

Mas a exceção deles e de raros exemplos, a onda de instituições “pagou, passou” só ganhou corpo e volume ao longo do tempo – desde o ensino fundamental até os bancos universitários.

 As instituições privadas de ensino que proliferam por todo o País funcionam na lógica empresarial. A meta é formar turmas para disponibilizar espaço para novas levas de alunos e, assim, manter a capitalização.

São verdadeiras máquinas de aprovação automática e de fazer diplomas – certificados que, não raro, caem nas mãos de pessoas que não estão capacitadas para exercer suas atividades profissionais, fazendo a nação pagar preço alto por esta habilitação indevida.

 Verdade seja dita, o desmonte da educação brasileira não está isolado nas instituições “pagou, passou.

 Antes estivesse.

Desafortunadamente, se estende a todo o sistema educacional – começando pela rede pública – e atinge todos os estágios da formação. Junto com a rede “pagou, passou”, a escola pública engrossa fileiras de profissionais que têm pouco a contribuir com o processo de crescimento do País.

Estamos nos transformando na pátria dos analfabetos graduados. Os estragos que este fenômeno demandam certamente inspiram os “cérebros” do MEC a repensar a estrutura falida. 

Mas enquanto alento substancioso surge das hostes do governo, procurando melhorar e ampliar o acesso ao ensino, a corda do retrocesso é esticada na outra ponta por lobistas interessados em manter a farra dos diplomas distribuídos a preços promocionais por instituições mais comprometidas com seus faturamentos do que com o ensino.

Lobbies que atingem até a Ordem dos Advogados do Brasil e sua determinação de manter seu exame – que, em sua última edição, reprovou mais de 80% dos candidatos.

Aos lobistas e seus mantenedores incomoda o fato de que o exame da Ordem expõe a carência extrema de qualidade com que operam centenas de faculdades de Direito em funcionamento no País.

Onde prospera o acordo pagou, passou quase invariavelmente saem profissionais incapazes de alcançar o patamar elevado, ostentados por detentores da cobiçada carteira da OAB.

Nível que precisa servir de referência. E não ser anulado pelas conveniências financeiras de instituições que não estão interessadas em construir o verdadeiro asfalto do desenvolvimento do Brasil: a educação.

 

PORTRAL CORREIO