A  professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, acaba de emplacar  mais uma aula de compromisso com a luta por uma educação de qualidade. A  educadora que há alguns meses fez um pronunciamento para deputados do  RN criticando a falta de prioridade dos governos para com a educação,  agora lecionou nova aula de críticas à classe empresarial.
 Amanda Gurgel foi escolhida pela classe empresarial para receber o  prêmio PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais). A premiação é  uma das maiores do País e é destinada a personalidades ligadas a defesa  de várias categorias no Brasil. A professora negou o prêmio alegando que  sua luta seria outra.
 Confira abaixo a carta de recusa da educadora e saiba por qual motivo o cobiçado prêmio foi negado por ela.
Natal, 02 de julho de 2011
 Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o  prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a  favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é  importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores,  de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A  dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem  acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários  aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências  por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja  cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e  angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de  melhores condições de vida e trabalho. 
 Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é  destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo  de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi  antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita  (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a  empresários da educação. Em categorias diferentes também foram  agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura  Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a  políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon,  Gabriel Chalita e Marina Silva.
 A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e  personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede  pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela  valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto  seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa  luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE.
 Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve  sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento  dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo  empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria,  mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade  que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem  público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de  vista sua finalidade.
 Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às  chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público”  (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o  ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente  para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que  nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam  amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma  oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração  fiscal.
 Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria  renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em  uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito  embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha  sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do  Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas.  Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus  companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
 Professora Amanda Gurgel
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