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Blog do Vavá da Luz

O valor dos cabelos brancos

‘Para Roberto Neto, por exemplo, sou mais do que idoso – sou um vetusto, um ser antigo’

Se você não tem um velho, compre um.

A sugestão fazia parte do catálogo de pérolas do ex-deputado Renato Ferrari, que nos deixou há pouco tempo. Aos 88 anos, ele certamente tinha know how para saber a importância estratégica de um idoso – seja na ambiência empresarial, política ou familiar.

Claro que Ferrari conjugou o verbo comprar nesta frase que me inspira neste domingo dos pais como ferramenta lingüística de impacto. Ele sabia – todos sabemos – que idosos não estão nas prateleiras, não são entregues por serviços delivery nem exibem códigos de barras.

O que ele provavelmente quis dizer é que, se você não tem um idoso por perto, herdado de uma família longeva e unida, conquiste um; se aproxime de um; providencie um velho para sua vida.

Velhice, claro, é relativa. E eu mesmo sou exemplo ilustrativo e pragmático do quanto o conceito de ancianidade muda de acordo com o olhar de quem vê.

Para Roberto Neto, por exemplo, sou mais do que idoso – sou um vetusto, um ser antigo. Roberto Filho, por sua vez, enxerga um pai recém desembarcado na terceira idade. Já se perguntarem a minha mulher, Sandra, ela jamais dirá que dorme ao lado de um velho. Para ela, seu par é, no máximo, um homem “maduro”.

Todos, porém, escutam o que tenho a dizer. Sabem mensurar o valor dos meus cabelos brancos, descoloridos pelas árduas – e muito instrutivas – caminhadas feitas ao longo desses sessenta e poucos anos.

Papa Francisco, se dirigindo aos extremos, pediu a jovens e idosos para não se deixarem excluir. Endosso o pedido e vou além: não excluam.

Ouvir e inserir um idoso em sua vida pessoal ou em seus conselhos políticos e empresariais é uma decisão – acreditem – de valor inestimável.

Verdade que o velho não tem o vigor de um jovem, mas também não tem seus açodamentos. Pois já viveu o suficiente para saber o que realmente importa.

Por isso volto ao velho Ferrari e as suas sábias e provocativas orientações: se você não tem um idoso por perto, adquira um. Compre seu velho com ouvidos e coração. E desembrulhe, como presente, a sabedoria.