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Blog do Vavá da Luz

O SORRISO DA HIENA (Marcos Souto Maior)

Marcos Souto Maior

O vai e vem das pessoas caminhando, apressadamente nas ruas de grande agitação, significa que o tempo é curto para um sorriso ou um simples aceno.

                                               A selva de pedra abocanha os incautos deixando-os de feição tensa e sem nenhuma graça. O custo de vida anunciando altas da inflação; a educação dos filhos menores sem controle; a falta de segurança pública, o perigo do craque, da maconha e da cocaína e a falta de fé no Senhor.

                                               De roldão, as pessoas se apressam cada vez mais, como se fosse o dia em que a terra explodiria de vez! Ninguém nem olha para ninguém porque o tempo é ouro e custa muito caro.

                                               Se alguém rir andando nas ruas, pode chamar o manicômio mais perto porque o caso é grave a exigir uma camisa de força.

                                               Me encontro com um amigo de infância que, na distância do incontido tempo, segurou-me pelo braço fazendo parar a corredeira e nos abraçamos de volta ao passado. “Há quanto tempo Marcos! Eu estive morando no sul do país e vim para o nordeste para curtir minha aposentadoria.”

                                               Roberto, você sempre foi feliz da vida, e seu descanso de guerreiro é bem merecido. Retruquei e também fiz um arzinho de riso. Aproveitamos e fomos a um café onde saboreamos o líquido mais consumido pelo povo brasileiro.

                                               A cada gole do cafezinho um degustar de saudades, alternando com a incerteza do dia seguinte, onde cada qual se isola para não ter problemas, nem decepções.

                                               De repente, uma gargalhada gostosa ecoou em torno da nossa mesinha quando recordamos as diabruras de olharmos o “lance” das coxas da professora de matemática. Logo uma disciplina que sempre tivemos dificuldades em aprender… Aí veio a imagem da hiena que tem uma gaitada, diametralmente diferente do sorriso da Monalisa.  Sim, porque sorrir é sempre um gesto de amor, enquanto a debochada graça do bicho mais seboso do mundo se parece mais com um arroto choco.

                                               Chegamos à conclusão lógica de que temos muita coisa em comum com as hienas! O homem não sabe viver pacificamente e sempre se envolve em devaneios que conduzem à ambição, à vaidade, ao orgulho, à inveja. É comum aos humanos deixar seus sustentos básicos da sobrevivência chegarem ao cúmulo do estado da podridão, não se apiedando da miséria dos seus irmãos.

                                               A prolongada seca nordestina não tem legado para ninguém, com falta da água para beber e cozinhar. Carros-pipa abastecem, de forma precária e racionada, aquele povo que sempre destilou sua bravura.

                                               Ao menos uma lágrima não restou dos olhos apertados dos desiludidos agricultores da nossa região para exprimir sua incontida desilusão.

                                               Não muito longe, as hienas brasileiras da pública administração, se encaixotam em ambientes refrigerados, comem carniça estatal rindo à toa pelas mordomias sem limites e desvio de verbas do erário. Esta, a risada louca, é desafio dos ricos, como se a miséria lhes alimentasse no bafo nojento das hienas travestidas de verde-amarelo.

(*) Advogado e desembargador aposentado

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