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O ESCAMOTEIO DA VERDADE E A ESCRAVIDÃO PROFISSIONAL (Chico Pinto)

Nestas últimas semanas, o Brasil inteiro debate a chegada de médicos estrangeiros, a maioria cubanos, para trabalhar em lugares remotos do país, onde dizem que há falta de profissionais para atender a população.

 Nada contra os esculápios estrangeiros, pelo contrário, até acho louvável a idéia, apesar de discordar da forma controvérsia e atabalhoada como estas contratações estão sendo feitas pelo governo brasileiro.

            Ao contratar estes profissionais o governo tenta escamotear um problema maior, estrutural, que se reflete no Sistema Único de Saúde, o famoso SUS. Um deles é o escrachante e desavergonhado desvio de recursos públicos, irmão univitelino da falta de planejamento estratégico para o setor.

O que adianta uma consulta médica se o paciente passa de quatro a seis meses para conseguir um exame?  Por mais boa vontade que tenha o profissional da medicina, ele não encontra o respaldo necessário para atender com decência um paciente pobre, aquele não dispõe de meios para comprar sequer um “caxete”, um mercúrio cromo e menos ainda uma pomada, em uma farmácia popular da esquina. Quanto aos exames, nem Santo Antônio, o milagreiro, dá jeito!..

Precisa-se também deixar de lado a politicagem pré-eleitoral e esclarecer de forma honesta e transparente, se os médicos cubanos irão dispor de liberdade para atuar no Brasil. Precisa ficar claro se eles ficarão aqui enclausurados, trabalhando em regime de semi-escravidão e, se pelo menos, terão liberdades para conduzirem os seus passaportes.

Enquanto o Ministério da Saúde não explicar de maneira honesta e condizente, como está trazendo os médicos cubanos para o Brasil, permite indagações e deixa transparecer que estas contratações são análogas ao trabalho escravo.

Veja só um dos exemplos: O governo brasileiro vai pagar ao governo cubano, por intermédio da Organização Panamericana de Saúde (Opas), R$ 10.000 para cada médico. Por sua vez, o governo cubano vai repassar aos seus médicos uma pequena fração desta quantia. Por incrível que pareça, o governo brasileiro não sabe quanto os médicos vão receber de salário. É o fim da picada!..

Afora isto, o governo do Brasil, tem o dever moral de responder a algumas indagações que vêm sendo feitas por este país afora, entra as quais estas se destacam:

1-     A quem os médicos cubanos vão prestar contas? Ao governo cubano que lhes paga ou ao governo brasileiro que paga ao governo de Cuba?

2-     As famílias destes médicos também virão ao Brasil ou ficarão retidas em Cuba como garantia do retorno destes profissionais?

3-     Os médicos solteiros poderão se relacionar com moças brasileiras? Este direito lhes é proibido na Venezuela.

4-     Quanto efetivamente vai receber cada médico? Este dinheiro lhe será pago mensalmente ou ficará retido em Cuba para ser pago quando retornarem a seu país? Os médicos importados trabalharão apenas por casa e comida? Temos o direito de saber, pois na realidade somos nós que estamos pagando.

5-     E quanto aos erros médicos quem vai ser responsabilizado: o governo cubano ou o médico?

6-     É justo um fazendeiro brasileiro ser acusado de promover trabalho escravo quando procede desta mesma forma o governo brasileiro?

7-     Apesar da urgência em oferecer atendimento médico de boa qualidade aos cidadãos brasileiros, medidas atabalhoadas, sem discussão adequada, com finalidade nitidamente eleitoreira, redundarão num fracasso.

Finalmente, é bom que se diga que não existe nenhuma nação séria, que permita médicos estrangeiros trabalhar em seu país sem uma avaliação criteriosa da sua capacidade profissional. Este projeto temerário e equivocado poderá ter desastrosas implicações sociais, médicas, diplomáticas e penais.