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Blog do Vavá da Luz

‘O bônus do ônus’; leia novo artigo do empresário Roberto Cavalcanti

‘O bônus do ônus’

“Além da batalha do ICMS, os nordestinos também não podem ceder à chantagem política que se apresenta, tendo os royalties do petróleo do pré-sal como barganha”

 

  • Roberto Cavalcanti
Roberto Cavalcanti

Ser a nova fronteira do desenvolvimento brasileiro não aliviou – pelo menos até o momento – a carga histórica de preconceito que boa parte do País nutre contra o Nordeste.


Remediados economicamente ou não, continuamos arrastando o ônus de sermos nordestinos – um estigma que eu mesmo pude vivenciar em minhas incursões empresariais em São Paulo.

Para completar– e reforçar – o quadro, a grande imprensa ancorada nas regiões Sul-Sudeste sempre nos imputa toda a sorte de má fama.

Um fenômeno que promete se agravar com a ascensão de dois nordestinos aos comandos das duas casas legislativas do Congresso Nacional – o alagoano Renan Calheiros no Senado Federal e o potiguar Henrique Eduardo Alves na Câmara dos Deputados.

Antes mesmo da posse, Calheiros teve passado, presente e futuro devassados.

O chumbo foi ainda mais pesado contra o novo presidente da Câmara: horas antes da votação, um dossiê com denúncias contra Alves foi distribuído em todos os gabinetes da Casa.

A pergunta que não quer calar: a metralhadora giraria em voltagem tão alta se os novos presidentes tivessem sido pinçados da elite política paulista? Ou mineira?

Independente da consistência (ou não) das acusações, a difusão logo na recepção mostra o quanto desagrada ouvir o sotaque nordestino em cargos tão elevados.

Ficou mais ou menos combinado que, seja qual for o comportamento dos dois, vão continuar recebendo carga negativa.

Negativismos à parte, os nordestinos não podem, porém, perder a coincidência histórica de ter seus conterrâneos nas cadeiras mais importantes do Congresso Nacional.

As passagens de Calheiros e Alves precisam ser traduzidas em benefícios para a região –sempre tão preterida nas ações governamentais.

Exemplo ilustrativo foi sacado da pasta pessoal do ministro Guido Mantega ao comparecer a reunião recente da Confederação Nacional da Indústria. 

Na CNI, ele encaminhou proposta que beneficia diretamente os estados do Sudeste e Sul, estabelecendo alíquota única de 4% do ICMS.

Nivelado, o imposto – cujos incentivos ajudaram na atração de investimentos para Norte e Nordeste ao longo das últimas décadas – acabaria a guerra fiscal. E proclamaria paulistas, gaúchos, mineiros e cariocas vencedores.

Além da batalha do ICMS, os nordestinos também não podem ceder à chantagem política que se apresenta, tendo os royalties do petróleo do pré-sal cmo barganha.


Precisamos fazer valer nossa condição de maioria, em aliança com os também preteridos estados do Norte, para garantir a distribuição equânime da riqueza do petróleo, além de tirar de arquivos (muito empoeirados) nossas urgências há tanto tempo postergadas.

Acho que vão concordar comigo que pós semeadura de tanto ônus é chegada a hora de colher o bônus. E plantar futuro de mais dignidade para os nordestinos.
Fonte: Portal Correio