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Blog do Vavá da Luz

NOME TORTUOSO (Marcos Souto Maior)

                                 MARCOS SOUTO MAIOR (*)

Acordei mais cedo do que de costume, mesmo sem compromissos pela manhã. Fui olhar minhas plantas e vi que as uxórias, que embelezam a jardineira da minha laje, foram tomadas por uma praga fazendo secar folhas e flores.

                                               Balançando a cabeça e franzindo a testa, liguei logo para meu jardineiro que, de imediato, deu um banho de produto químico para acabar com a peste e recomendando uma aguada forte para fazer frente ao calor de verão. “Doutor, nesse tempo, toda água que botar ainda é pouco…” disse Maradona ao terminar a operação jardim.

                                               O leitor pode até ficar curioso acerca do nome do assessor especial para jardinagens. Na verdade, fui eu a informalmente lhe batizar, porque se parece muito com o homônimo craque argentino. Ambos sendo baixinhos, fortes, determinados e conversadores, mas o da Paraíba não joga nem bola de gude… Padecia da inconveniência de responder pelo prenome Edjane, que não caia bem para um macho sadio!      

                                               A escolha paterna, quando menos, fora um despropósito incalculável sendo frequentes as gozações humilhantes, sempre terminando em trocas de palavrões, empurrões e tapas, até porque o rapaz tinha razoável compleição física, sem mínimos sintomas de afeminado.

                                               Certo dia, perguntei ao meu jardineiro, se ele gostaria de mudar o seu prenome, pondo fim ao pesadelo de atender por um nome eminentemente feminino.  Se fosse, por exemplo: Valdeci, Jesse, Andrei, Josemar, Walderez, Darci, Gil, Arael, Josil, dentre muito outros, até que dava para suportar. Contudo a resposta estava na ponta da língua e seus olhos brilharam de alegria: “Doutor, nunca pensei que poderia ser feliz e o nome é aquele que o senhor me chama: Maradona”.  

                               Já na Vara de Registro Público a papelada chegara às mãos do juiz respectivo e, em audiência suas razões e fundamentos foram aceitas para trocar Edjane por Maradona Ferreira.

                                               De posse da nova certidão de nascimento, chegou ao campo de pelada do bairro onde morava, e inventou de jogar futebol, imaginando que o nome resolveria à parada. Jogando de atacante, Maradona levou inúmeras cacetadas nas pernas e cotoveladas nos espinhaços, terminando por ser substituído, e seu time perdeu feio o jogo.

                                               No cômputo geral, meu amigo herói ganhou uma parada que muitos desejam nesse mundo de meu Deus, para ter o direito de ser chamado por nome que não lhe traga decepção, chacota e vergonha.

                                               Os cartórios de registro de nascimento, bem que poderiam impedir nomes de mulheres para nominar machos, tão fáceis de escolha. A dor provocada por um pré-nome só quem avalia é quem é obrigado a usar!

                                               Reencontrar a identidade pessoal é esquecer o passado humilhante, curar-se das dores sofridas e reviver a felicidade conquistada.

                                                                                               (*) Advogado e desembargador aposentado