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Blog do Vavá da Luz

Na Paraíba 378 esperam transplante de rim, mas apenas 9 doações foram feitos

  • Gyanna Montenegro e Reginaldo Boni
Gyanna Montenegro e Reginaldo Boni

 Na Paraíba, 476 pessoas estão à espera de transplante de órgãos. São pessoas que necessitam de rim, fígado ou córnea. Atualmente 378 pacientes aguardam transplante de rins e, até a quarta-feira passada (22), apenas 9 tinham sido doados.

 Segundo a chefe de Ações Estratégicas da Central de Transplantes da Paraíba, Myrian Carneiro de França, isso acontece por falta de notificação da equipe médica, pela demora em realizar o diagnóstico, pela falta de estrutura dos hospitais em relação aos equipamentos ou pela falta de capacitação dos profissionais para realizar os exames que comprovam a morte encefálica.

A professora também informou que na Paraíba possui apenas dois aparelhos de Doppler Transcraniano, essenciais para o exame que detecta a morte encefálica (ME) do futuro doador. Eles estão instalados nos hospitais de Trauma da Capital e de Campina Grande, para atender a demanda de todo o Estado. Além disso, o equipamento do Trauma de João Pessoa está em manutenção. “O ideal seria que tivéssemos mais dois aparelhos”, comentou.

Myrian Carneiro explicou que, para ter o diagnóstico de morte encefálica (ME), são necessários três exames, sendo dois clínicos (com intervalo de seis horas entre um e outro para maiores de 2 anos de idade) e ainda um exame de imagem (que pode ser uma arteriografia, doppler ou eletroencefalograma, este último em caso de crianças menores de 2 anos).

“O tempo mínimo que se gasta para se concluir um protocolo de ME – de acordo com a resolução do CFM 1.480/1997 que prevê a realização desses três exames – é de oito horas. Depois de vencer todas as barreiras, ainda temos que conversar com a família para saber se ela vai querer doar os órgãos”, explicou Myrian Carneiro, que é mestre em Políticas de Saúde.

 

Lista de espera em 22.5.2013

Órgão Pacientes
   
Córnea 93
Coração 0
Rim 378
Fígado 05

Fonte: Central de Transplantes da PB

E para piorar a estatística nos últimos cinco anos, os números estão em decorrente declínio, segundo a Central de Transplantes da Paraíba. Só em 2008 foram 135 pessoas que fizeram o transplante de córnea, já em 2012 foram apenas 99. Já com relação à doação de fígado em 2008 foram cinco e em 2012 foi apenas um doador. Com o coração desde 2010 não há nenhum doador na Paraíba.

 

 

ESTATÍSTICA DOS TRANSPLANTES REALIZADOS NA PB
   
ÓRGÃOS 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Córnea 135 202 180 155 99 65
Rim Cadáver 4 4 21 15 29 14
Rim Intervivo 8 8 11 14 21 9
Fígado 5 5 11 3 1 0
Coração 0 1 0 0 0 0

Fonte: Central de Transplantes da PB

A Lei 10.211/1997 regulamenta a doação de órgãos no Brasil. “Ela diz que só a família pode autorizar a doação dos órgãos, mesmo o paciente tendo manifestado o desejo em vida. Por isso, é importante que a pessoa que quiser doar seus órgãos, manifeste o seu desejo em vida, porque a família geralmente tende a atender o pedido”, comentou Myrian.

O jornalista Fernando Gabeira – que faleceu no Hospital de Trauma da Capital vítima de um AVC – poderia ter sido um doador potencial e seus órgãos (coração, rim e fígado) podiam ter ajudado a salvar outras vidas. “Mas houve parada cardiorrespiratória antes dos exames que comprovam a morte encefálica serem concluídos”, lamentou Myrian Carneiro.

Para mudar essa realidade e aumentar o número de órgãos aproveitados e transplantes, o Ministério da Saúde (MS), através do Sistema Nacional de Transplante, vai promover desta sexta-feira (24) até o próximo domingo (26), o “Curso de Implantação de Organização de Procura de Órgãos”. Esse curso está sendo realizado em vários Estados do País.

Na Paraíba, acontecerá na Clínica-Escola de Enfermagem do Unipê, no campus universitário, no Km 22 da BR-230, no bairro de Água Fria, em João Pessoa. Deverão participar profissionais de saúde, entre eles, médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, que atuam em pelo menos 10 hospitais da Paraíba.