Sérgio Lima/Folha
O prezado leitor não sabe, mas ajudou a financiar uma despesa doméstica o ministro Pedro Novais (Turismo), 81.
Hoje licenciado da Câmara, Novais pagou com verbas públicas, durante sete anos, o salário de uma governanta.
Chama-se Doaralice Bento de Sousa, 49. Entre 2003 e 2010, frequentava a folha da Câmara como “secretária parlamentar” de Novais.
Porém, não dava as caras no gabinete do então deputado. Cumpria seu expediente no apartamento de Novais.
Dora, como é chamada, cozinhava para Novais, organizava a rotina doméstica dele, chefiava as diaristas desacadas para a faxina (ops!).
O salário de um secretário parlamentar oscila entre R$ 1.142 e R$ 2.284, dependendo das gratificações.
Deve-se a revelação a uma dupla de repórteres: Andreza Matais e Dimmi Amora. Em notícia veiculada pela Folha, contam mais.
Sim, há mais: pouco depois de Novais ter sido guindado por Dilma Rousseff à poltrona de ministro, Dora trocou de emprego.
Virou servidora terceirizada do Ministério do Turismo. Foi contratada como “recepcionista” pela Visão Administação e Serviços Ltda..
A empresa mantém com a pasta chefiada por Novaes um contrato de fornecimento de mão de obra. Recebe da Viúva R$ 1,5 milhão por ano.
Quer dizer: o salário de Dora migrou de escaninho, mas é você, caro contribuinte, quem continua bancado a remuneração.
Ouvida, Doralice aconselhou: “Se vocês quiserem saber [o que eu fazia], vocês vão até ele [Pedro Novais].”
Diante da insistência dos repórteres, ela atalhou a conversa –”Não tenho nada a falar. Não trabalhei na casa. Trabalhei no gabinete”— e desligou o telepone.
Procurado, Novais manifestou-se por meio da assessoria. Mandou dizer que Dora dava, sim, expediente em seu gabinete de deputado.
Fazia o quê? Até dezembro de 2010, dava “apoio administrativo ao deputado e outros funcionários.” Lorota.
Duas pessoas que transitam pelo prédio onde o ex-deputado morava atestaram à reportagem que Dora trabalhava no apartamento funtional de Novais.
Antes de tornar-se governanta de Novais, Dora fora doméstica do ex-deputado Marcelo Barbieri (PMDB). Hoje prefeito de Araraquara (SP), Barbieri contou:
“Ele pediu referências dela, e eu dei. Disse que é uma pessoa boa, honesta. Fazia tudo, mas minha relação com ela era particular, não tinha nada a ver com a Câmara.”
O ministro confirmou que Dora foi contratada, em maio, pela empresa que provê mão de obra terceirizada ao Turismo.
O ministro absteve-se de responder, porém, se partiu dele a ordem para a contratação.
Dono da empresa Visão, José Raimundo Silva, esquivou-se de confirmar a contratação de Dora. O contrato com o Turismo contém “cláusula de confidencialidade”, alegou.
Preocupou-se em dizer que não recebeu pedido de Novais para contratar a ex-governanta. Disse que sua empresa seleciona pessoas pelo currículo.
Mas será que Doralice tem experiência como recepcionista? “Em alguns casos, o currículo não é considerado”, disse José Raimundo.
Novais mantém com as arcas do Estado relação atípica. Em 2010, pagou com verbas da Câmara festa num motel do Maranhão. Pilhado pelo repórter Leandro Colon, devolveu a grana.
O cuteio de empregadas domésticas com verbas públicas não é um pecado original. Em 2009, quatro parlamentares foram às manchetes em situação idêntica (aqui, aqui e aqui).
Arnaldo Jardim (PPS-SP), José Paulo Tóffano (PV-SP), Osório Adriano (DEM-DF) e Alberto Fraga (DEM-DF) negaram o malfeito. Mas exoneraram as empregadas.
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