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Blog do Vavá da Luz

MARINGÁ : A história da canção que virou cidade

O Ingá e a canção, Maringá: mitos, lendas e a verdadeira história da canção e da cidade

Joubert de Carvalho, compositor de Maringa

Muito se tem propalado, não só no meio de historiadores, como na população paraibana, em geral, a respeito da canção “Maringá”, gravada em 1932, por Gastão Formenti e também na voz do famoso intérprete Carlos Galhardo e tantos outros que a regravaram posteriormente. 

Por muito tempo, andaram dizendo que a letra de “Maringá” era do poeta Olegário Mariano – o poeta das cigarras – e, na falta de informações mais concretas,      lendas e lendas foram criadas. Uma delas falava da história de um cantarolar triste de um viúvo, derrubador de mato, que numa rede amarrada em árvores ninava seu filho, cantando “Maringá, Maringá…” e os ouvintes comovidos resolveram dar o nome da canção a uma cidade do Paraná.

 

Uma outra lenda relata que Dona Elizabeth, esposa de um dos diretores da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, teria sugerido o nome de Maringá à área que seria colonizada, referindo-se a futura cidade paranaense.

 

No Nordeste, até hoje, afirma-se que a canção seria em homenagem a cidade paraibana de Pombal, devido a uma de suas estrofes referir-se: “Antigamente / uma alegria sem igual / dominava aquela gente / da cidade de Pombal”.

 

Com o passar dos anos, muitas outras inverdades históricas foram surgindo, misturando o real com o imaginário.

 

O escritor João Antônio, em seu livro “Dama do Encantado”, lembra como nasceu a canção Maringá:

 

 

 

1930. Convidado por Joubert de Carvalho, o paraibano José Américo de Almeida, à época um poderoso Ministro de Getúlio, foi à casa do compositor de “Pierrô”, de quem se dizia fã. Naquela noite, Zé Américo esqueceu que era Ministro, e mergulhou numa serenata que invadiu a madrugada carioca.

 

 

 

Dias depois, Rui Carneiro, seu oficial de gabinete, pediu a Joubert ‘uma composição sobre o Nordeste calcinado e penando miséria’. Queria agradar o patrão. No primeiro momento, o poeta desejou compor falando de Areias [sic.], a terra natal de Zé Américo. Desistiu, alegando que ‘Areias [sic.] não era musical’. Restou-lhe compor em cima da cidade de Rui [sic.] Carneiro, a cativante e sonorosa Pombal.

 

 

 

Mas Joubert achava que ‘em toda história sempre entra uma mulher’. Tinha que botar na canção uma Maria. E essa Maria ele foi buscar na pequenina Ingá, cidade ‘onde a seca castigava mais tirana’. Maria do Ingá, no primeiro instante; logo em seguida, Maringá. E com este nome, nascia a canção. [Texto adaptado de Felipe Juca – www.anavedapalavra.com.br. ].

 

Na história da origem do nome da cidade paranaense de Maringá, reporta-se ao fato que:

 

Morava na cidade de Pombal, interior da Paraíba, numa ruazinha coberta por ingazeiros, uma linda cabocla de nome Maria do Ingá. Era filha de retirantes nordestinos, dona de uma beleza encantadora, de corpo bem feito, pele morena, olhos e cabelos negros. Maria fascinava a todos inspirando ardentes paixões.

 

Um dia, uma seca inclemente, levou a linda Maria, deixando o político Rui [sic.] Carneiro desolado de tristeza. Bairrista como todo nordestino, Rui [sic.] pediu ao amigo Joubert de Carvalho, que fizesse uma música que exaltasse a mulher amada e sua terra natal. Para o famoso compositor não foi difícil fazer a combinação poética de Maria do Ingá. Na fusão das palavras Maria mais Ingá, surgiu Maringá, dando origem a Canção ‘Maringá, Maringá’, que por volta de 1935, estourava nas paradas de sucesso. [Texto de ‘Origem do nome Maringá’. Do site da Prefeitura Municipal de Maringá: www.http://.maringa.pr.gov.br].

 

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CANÇÃO “MARINGÁ”

 

Ruy Carneiro nasceu na cidade de Pombal, interior da Paraíba, filho do advogado, agricultor e pecuarista João Vieira Carneiro (Joca) e de Maria Carvalho Carneiro (Sinhá). Era o 4º filho de um total de 11 que nasceram do casal Joca e Sinhá. São seus irmãos, por ordem de nascimento: Jayme, Adalgiza, Dulce, José Janduhy, Dalva, Marie, Clovis, Francisco, Aracy e Mirtes.

 

Ainda jovem, em 7 de março de 1931, Ruy foi convidado por José Américo de Almeida, para ser seu oficial-de-gabinete, uma vez que com a vitória da Revolução de 1930, José Américo assumiu, de 1930 a 1934, o Ministério da Aviação e Obras Públicas do governo do Presidente Vargas.

 

Eterno apaixonado pela Paraíba, como assinala o seu sobrinho e biografista Antônio Carneiro Arnaud, Ruy Carneiro:

 

… sempre no final do expediente, se divertia na companhia do também jovem médico mineiro, Joubert de Carvalho, que tinha sido aproveitado no quadro de funcionários do referido Ministério. Certa vez, o médico mineiro que era compositor, manifestou a Ruy Carneiro o seu desejo de retribuir a gratidão ao Ministro e a Ruy por sua nomeação. Revelou que sempre acompanhava e participava da ansiedade dos dois, em face da angústia da seca do nordeste.

 

Certo dia comunicou que estava com uma canção praticamente pronta, mas sentia dificuldade na conclusão do trabalho porque a terra natal do Ministro, Areia, não facilitava a rima na sua composição. Perguntou quais os municípios próximos ou da região onde Areia se situava. Ruy Carneiro saiu desfilando os nomes das diversas localidades e quando citou Ingá, Joubert de Carvalho exclamou: ‘Pronto, encontrei a solução para a chave do problema’ e no dia seguinte trouxe a composição da canção Maringá, que hoje é conhecida em todo território nacional e até tem trazido algumas errôneas interpretações.

Algumas pessoas que desconhecem esse real fato que inspirou Joubert de Carvalho, chegam a criar histórias mirabolantes, totalmente fora da realidade. O historiador Wilson Nóbrega Seixas, em seu livro “O velho Arraial de Piranhas – Pombal”, já prestou esclarecimentos sobre a aludida canção e aqui repetimos o que Ruy Carneiro me narrou, para evitar para sempre que se diga que Maringá foi composta para homenagear a cidade do Paraná, que hoje tem aquele nome (ARNAUD, 2000).

 

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CIDADE MARINGÁ

 

Maringá foi fundada em 10 de maio de 1947, como Distrito de Mandaguari. Em 1948, passou a categoria de Vila, e depois elevada a Município através da Lei Nº 790, de 14 de novembro de 1951, tendo como distritos Iguatemi, Floriano e Ivatuba. À categoria de Comarca, foi elevada em 1954. A partir de 1998, tornou-se sede da Região Metropolitana, integrada, além de Maringá, pelos municípios de Sarandi, Paiçandu, Mandaguaçu, Marialva, Mandaguari, Iguaraçu e Ângulo.

 

O certo é que por volta de 1940, esta área coberta por uma densa floresta, já era denominada por Maringá, tendo a Companhia Norte do Paraná, colocado uma placa com esse nome nas imediações, a exemplo de outros nomes como Ivaí, Tibagi, Inajá e outros provenientes da língua Guarani. Os córregos e rios eram tantos que lhes faltavam criatividade para nomeá-los. Por esse motivo, os funcionários da Companhia do Norte do Paraná, escolhiam nomes de cidades de seus países, como por exemplo, Astorga e outras. Até marcas de cigarros davam nomes às águas, como o córrego do Fulgor. Ao demarcar essa região, nomeava os rios e esses é que davam nomes às futuras cidades, como por exemplo Marialva, Mandaguari e tantas outras.

 

Encontraram um ribeirão que recebeu o nome de Maringá, provavelmente inspirado na canção de Joubert de Carvalho. Esse córrego foi batizado pelo senhor Raul da Silva, na época, Chefe do Escritório de Vendas da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, em Mandaguari. O nome desse córrego passou a ser o nome da futura cidade. Assim Maringá recebeu o nome da canção, que por sua vez também tem sua história.

 

 

 

Abaixo, a letra de Joubert de Carvalho para a canção “Maringá”, gravada pela primeira vez na voz de Gastão Formenti, em 1932.

 

 

 

MARINGÁ 
(Canção – Letra e Música de Joubert de Carvalho)

 

Foi numa léva 
Que a cabocla Maringá 
Ficou sendo a retirante 
Que mais dava o que falá. 

E junto dela 
Veio alguém que suplicou 
Pra que nunca se esquecesse 
De um caboclo que ficou 

Maringá, Maringá, 
Depois que tu partiste, 
Tudo aqui ficou tão triste, 
Que eu garrei a maginá. 

Maringá, Maringá 
Para havê felicidade, 
É preciso que a saudade 
Vá batê noutro lugá. 

Maringá, Maringá 
Volta aqui pro meu sertão 
Pra de novo o coração 
De um caboclo assossegá. 

Antigamente 
Uma alegria sem igual 
Dominava aquela gente 
Da cidade de Pombal 

Mas veio a seca 
Toda chuva foi-se embora 
Só restando então as águas 
Dos meus óio quando chora 

Maringá, Maringá, 
Depois que tu partiste, 
Tudo aqui ficou tão triste, 
Que eu garrei a maginá. 

Maringá, Maringá 
Para havê felicidade, 
É preciso que a saudade 
Vá batê noutro lugá. 

Maringá, Maringá 
Volta aqui pro meu sertão 
Pra de novo o coração 
De um caboclo assossegá.

 

Caso queira ouvir a canção “Maringá”, na voz de Francisco Petrônio, acesse o site da “Conservatória – A capital mundial das serestas e serenatas”:

  http://www.capitaldaseresta.kit.net/joubertdecarvalho.htm