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      Guarany Viana, da alegria à tristeza

 

          Guarany Viana, da alegria à tristeza

 

          Tudo que tem vida tem uma idade, e, por isso, sendo desses os principais, os humanos contam o tempo que é um só. Mas fracionam para contar e recontar os seus pedaços e situar-se num desses momentos que se multiplicam entre o passado, o presente e o futuro. Reconta, nos dedos, quando nasceu, em relação aos fatos e às pessoas que também nasceram e até aquelas que morreram. Sou meio atrapalhado para lembrar dos aniversários alheios, até dos de casa, o que me tem causado dissabores… Mas o meu sei de cor, e de alguns amigos que aniversariam no mesmo dia, no nosso 24 de abril, embora de anos diferentes, isso não importa, importante é a comemoração natalícia.
          Um deles era Francisco Pereira Nóbrega, a cujo mestre, filósofo, escritor e cronista, prestavam homenagens, no Seminário,  e também a todos os aniversariantes, e lá estava eu, desde meus 11 anos, nessas ocasiões, também recebendo, relativamente, parte dos discursos, das palmas e dos parabéns. De tudo isso, o motivador era o Padre e professor, recém-chegado de Roma, que discursava, e muito bem, em nome de todos. Referia-se a mim, companheiro de aniversário, e isso me lisonjeava: “Damião, você sou eu amanhã”… Relembrando, palavras essas repetidas pela sua viúva Lígia, quando assumi, na APL, a cadeira 33, deixada vaga por Francisco Pereira em razão do seu falecimento. Em vida, muito amigo; depois da morte, imortal confrade.
          Mesmo com as limitações da memória nesse sentido, realçou-se outro companheiro aniversariante, no mesmo 24 de abril: Guarany Viana, comemorando essa coincidência. Eu o conheci, na década de 70, no DEDE, sob as instruções do Professor Marconi, ”fazendo ginástica” com pessoas ilustres: Dom José Maria Pires, Antonio Escorel, Luís Andrade, Augusto de Almeida, Guarany e tantos outros colegas daqueles exercícios. Foi então quando começamos a festejar o nosso aniversário.
          Por isso, todas as manhãs deste dia do ano eram iniciadas com um abraço ou um telefonema, sobre essa feliz e boa coincidência. Também ligava para Guarany, quando achava um cano quebrado, derramando água rua afora. Não importa onde ele estivesse, qual função ocupasse, Guarany sempre foi bondosamente a Cagepa. E não sei como, de imediato, ele providenciava o conserto. Sabia, porém, de uma fundamental razão: seu amor e zelo pela coisa do povo e pelo serviço público. Essa virtude provém de longe, como fundador da Cagepa; grande colaborador de João Azevedo, na Secretaria de Infraestrutura; Professor do Centro de Tecnologia da UFPB, e emérito membro e dirigente da ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária.
          Esse último 24 de abril tinha tudo para ser um belo dia: jardim ensolarado; pássaros, inclusive canários da terra; corujas, pintinhos acompanhados por bonitos guinés. Tendo colocado xerém e alpiste para eles comerem, comecei a ligar para Guarany, pois era também o seu aniversário. Ele não atendia. Depois de várias tentativas, soube que ele tinha falecido, no dia do seu aniversário, lamentável coincidência. Estudioso das ciências exatas, era exato até tratando das águas, por que essa exata coincidência sem separar o sorriso da alegre satisfação das lágrimas da triste insatisfação? Por que trazer a uma mesma circunstância a vida e a morte? É assim a vida, seja no começo, seja no fim. Júbilo e desgosto pelo usufruto da nossa existência, num só dia. É, a vida tem de tudo, enfim, inclusive nada.

Damião Ramos Cavalcanti