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FINALMENTE, DEPOIS DE MAIS DE 400 ANOS APRENDEMOS A VIVER NO SEMIÁRIDO (Prof. Marciano Dantas)


      Para muitos, principalmente do Sul e Sudeste do Brasil, a Região Nordeste é conhecida como a “Região Problema” devido imperar nessa região a seca, a fome, a miséria, entre outros males. Realmente, isso é um grande problema, mas isso não é a causa da miséria do Nordeste.

      A média pluviométrica do Nordeste é de 400 milímetros por ano. Essa média é considerada alta, se compararmos muitos lugares do planeta. Israel, é um exemplo disso. A média pluviométrica do país fica em torno de 250 mm/ano mas, mesmo assim, o país é um dos maiores produtores mundiais de grãos por metro quadrado. Sem contar que o semiárido nordestino é a região semiárida mais povoada do mundo.

      Graciliano Ramos, em sua obra “Os Sertões”,  disse que “O grande problema do Nordeste não é a seca, e sim a cerca”, e esse pode ser um dos grandes problemas da Região. Desde o período de colonização, que o nosso país sofre com esse problema, que á a má distribuição de terras. Isso começou com o sistema de Capitanias Hereditárias, quando Portugal dividiu o Brasil em 12 capitanias, entregues aos seus donatários. Depois, com o fracasso da divisão em capitanias, o Governo criou o sistema de sesmaria, que nomatizava a distribuição de terras destinadas à produção. Depois, criou a Lei de Terras, processo pelo qual as pessoas só poderiam adquirir terras no país por meio da compra. Tudo isso favoreceu sempre os latifundiários, e sempre esquecendo as classes menos favorecidas.

      Vários projetos foram criados ao longo da História para tentar resolver os problemas ocasionados com a seca. Um deles foi a construção de açudes e barragens no leito dos rios e riachos do Nordeste. Uma solução simples que poderia dar resultado, porém, na maioria das vezes, acabava agravando ainda mais o problema da miséria na região. A construção de grandes reservatórios acabava sempre beneficiando os grandes proprietários de terra e os políticos. Isso acabou criando a chamada “Indústria da Seca”, onde as obras que eram destinadas ao povo nordestino acabava sempre beneficiando uma minoria que já era favorecida. Sem contar que, grande parte das águas dos açudes acabam se evaporando, devido à elevada temperatura.

      Assim, sempre o problema da fome e da miséria do Nordeste, ficava na marginalidade desse processo, servindo para que as elites, em época de eleições, conseguisse se eleger por meio da compra do voto.

      Mas hoje, a situação começa a melhorar para os sertanejos. Finalmente, depois de mais de 400 anos de povoamento, o nordestino está começando a conviver melhor com a seca. Graças a projetos do Governo Federal, em parceria com os governos estaduais e municipais aliado às ONGs (Organizações Não-Governamentais) e a Igreja, a situação está melhorando. A construção de cisternas, faz com que o homem do campo possa ter água de boa qualidade durante todo o período de seca; a agricultura familiar, propicia ao agricultor e sua família, consumir produtos saudáveis durante boa parte do ano; a construção de barragens subterrâneas, permite um melhor aproveitamento do lençol freático, evitando a perda da água por meio da evaporação; a manutenção da vegetação da caatinga e o seu uso sustentável, evita que aumente o processo de desertificação, além de aproveitar frutos desse bioma para fazer doces, geleias, além das palmáceas contribuir para alimentar o gado; o artesanato, tem contribuído para gerar emprego e renda para muitas famílias sertanejas. As festas tradicionais, como as de padroeiro ou São João, contribui para o desenvolvimento do turismo.

      Enfim, hoje, a região, que já foi a maior fornecedora de mão de obra para outras regiões do país, está mostrando que é possível conviver e desenvolver cada vez mais o nosso Sertão.

Professor Marciano Dantas de Medeiros – Natal/RN