Na véspera da eleição, senador votou a favor do fim do cálculo para aposentadorias; ao iG,ele reconhece pressões políticas na área
O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), 63 anos, votou a favor do fim do fator previdenciário. Recém indicado pela presidente eleita Dilma Rousseff como ministro da Previdência, ele disse, em entrevista ao iG, que irá rever sua posição.
Em maio deste ano, o Senado derrubou o fator previdenciário — cálculo criado em 1999 para reduzir o valor das novas aposentadorias concedidas, a fim de aliviar o déficit na Previdência. Às vésperas da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de vetar a proposta.
De iniciativa do senador Paulo Paim (PT-RS), o fim do fator previdenciário ganhou o apoio de seus colegas porque entidades representantes de aposentados e pensionistas pressionaram o Congresso. Na época, Garibaldi foi um dos senadores que apoiou o colega petista.
“Eu votei a favor da emenda do Paulo Paim, inclusive porque foi por unanimidade a votação”, disse Garibaldi. “Hoje eu teria já que me inclinar para uma posição mais moderada”, reconheceu. O novo ministro disse que a presidente eleita — com quem ele conversou por cerca de 20 minutos — vê com dificuldades a realização de uma reforma da Previdência.
Sobre mudança de opinião, Garibaldi diz acreditar que a população vai compreender
Confira os principais trechos da entrevista que Garibaldi concedeu ao iG.
iG – Já tem nomes para compor sua equipe no ministério?
Garibaldi Alves – Estou pensando primeiro em aproveitar nomes do ministério atual. Pessoas que poderiam me ajudar. E depois eu pretendo levar uns dois ou três nomes de fora.
iG – O senhor conversou com alguém do ministério?
Vou conversar com o Carlos Gabas nesta terça-feira à tarde. Chego lá (no ministério), converso com um funcionário ou outro, mas são informações isoladas que eles mesmos me dão. Uma coisa mais consistente é só com o ministro.
iG – O senhor tem algum projeto específico no ministério?
No momento eu não tenho ainda não. Eu não esperava ir para este ministério e não desenvolvi nenhum trabalho anterior.
iG – Mas qual visão o senhor tem sobre o trabalho do ministério? Qual diagnóstico o senhor faz?
O ministério melhorou a sua imagem perante a sociedade. Agora eu preciso me aprofundar para saber se faz necessário uma reforma.
iG – No passado recente, falou-se muito em reforma da Previdência? O senhor acha possível?
Nós temos hoje um trauma em relação a reformas. Não fizemos a política, não fizemos a tributária. Sinceramente, eu tenho de ver se há condições agora de se fazer a reforma da Previdência. Isso porque reforma não é só o que você vê na área técnica. Você tem de ver, é claro, os questionamentos políticos e as dificuldades de ordem política.
iG – O que o senhor acha mais difícil?
Hoje a maior dificuldade é a questão do fator previdenciário. Porque é uma espécie de redutor das aposentadorias e que é um ponto de equilíbrio da Previdência. Se você simplesmente der um corte, eliminá-lo, você pode trazer um problema no equilíbrio nas contas da Previdência.
iG – Essa é um proposta do seu colega de Senado, Paulo Paim (PT-RS).
Essa é a proposta mais radical, que é a simples eliminação. E há quem sugira que isso deveria ser trocado por uma idade mínima para a aposentadoria.
iG – O senhor concorda com essa proposta?
Eu votei a favor da emenda do Paulo Paim, inclusive porque foi por unanimidade a votação. Mas hoje eu teria já que me inclinar para uma posição mais moderada, de maior estudo.
iG – Na época o senhor era favor?
Houve um clamor muito grande (pelo fim do fator). A pressão era muito grande.
iG – E agora o senhor não espera ser pressionado, como ministro?
Eu tenho de me preparar para isso. Não posso ficar imune a essas pressões.
iG – O senhor não teme sofrer críticas por ter votado a favor do fator previdenciário e agora, como ministro, ter de mudar de posição?
Acho que as pessoas vão compreender. Uma coisa é você votar como parlamentar. Outra é ser ministro e executar uma política.
iG – Ao convidá-lo, o que a presidente Dilma pediu para o senhor?
Pediu que nós déssemos continuidade a essa política de avanços na Previdência. Disse que eu iria ficar impressionado vendo por dentro como isso está se desenvolvendo. Já a reforma da legislação ela (Dilma) acha que é uma coisa mais complexa.
iG – Ela é a favor?
Não disse. Limitou-se a dizer apenas isso (que a reforma era complexa).
iG – Quanto tempo durou a conversa com ela?
(O novo chefe da Casa Civil Antonio) Palocci também acompanhou. Foi uma conversa rápida, de 20 a 30 minutos.
iG – O que o senhor achou da informação inicial de que o senhor não era considerado confiável pelo Palácio do Planalto? Isso principalmente por conta de suas posturas como presidente do Senado, quando criticou o uso de medidas provisórias.
Isso já foi absorvido porque se não tivesse sido não teria sido nem mesmo cogitado. Acho que o governo já deixou isso de lado. Eu também estou convencido que minha missão é outra, é ajudar o governo. E as atitudes que eu tomei, principalmente como presidente do Senado, eu tomaria diante de qualquer governo. Seja governo do PT, do PMDB. Eu tomei aquelas medidas em nome da independência do Legislativo.
iG – Como a população do Rio Grande do Norte recebeu a notícia de que o senhor será ministro da Previdência?
Todo mundo ficou satisfeito. As pessoas acham que seja qual for o ministério há sempre possibilidade de um conterrâneo ajudar o Estado.
iG – Mas como o senhor pretende ajudar o Rio Grande do Norte como ministro da Previdência?
Como ministro, vou desenvolver um trabalho por toda a Previdência do País. Eu não posso priorizar o meu Estado. Agora há uma articulação natural que vou desenvolver com outros ministros. Haverá a possibilidade, de junto a eles, poder explicar melhor os pleitos do Estado que, como parlamentar, não dispunha deste espaço.
iG – Dentro do governo, então, o senhor espera ser mais ouvido.
Vai ser pedir mais de perto para que se examine uma situação.
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