Por que a água é o desafio do século XXI?
Nem petróleo, nem política, nem religião. Segundo relatório do Banco Mundial, “as guerras do próximo século serão por causa de água”.
Cada vez mais rara, a água tem se tornado um elemento de disputa entre nações. Atualmente, sua escassez já é um problema crônico enfrentado por cerca de 500 milhões de pessoas em 2 países. Em 30 anos, o número de pessoas saltará para 3 bilhões em 52 países.
Estima-se que, nesse período, a quantidade da água disponível por pessoa em países do Oriente Médio e do Norte da África estará reduzida a 80%. A população mundial estará na faixa dos 8 bilhões de pessoas em 2030, a maioria concentrada nas grandes cidades. Será necessário produzir mais alimentos e mais energia, aumentando assim o consumo doméstico e industrial de água. Essas perspectivas fazem da água uma questão internacional e motivo de guerra entre países.
A luta pela água faz parte da história de países como Israel e China. Em 1967, um dos motivos da guerra entre Israel e seus vizinhos, na chamada “Guerra dos Seis Dias”, foi a ameaça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo do rio Jordão, cuja nascente fica nas montanhas do sul do Líbano. O rio Jordão e seus afluentes fornecem 60% da água necessária à Jordânia e também abastece a Síria. A China, país mais populoso do mundo, sofre com a escassez de água. A grande população e a demanda agroindustrial estão esgotando o suprimento de água do país. Todos os dias mais de 80 milhões de chineses andam mais 1,5 km para conseguir água.
O Brasil, por sua vez, é um país privilegiado no que diz respeito aos recursos hídricos. Sua distribuição, entretanto, não é uniforme em todo território nacional.
A Amazônia detém a maior bacia fluvial do mundo. O amazonas, rio com maior volume de água, é considerado um rio essencial ao planeta. Apesar da abundância de água, a região amazônica é uma das menos habitadas do Brasil.
Em contrapartida, é nas capitais, distante dos grandes rios, que se encontram as maiores concentrações populacionais. Há ainda o Nordeste, onde as secas prolongadas obrigam as pessoas a abandonarem suas terras e partir para as cidades em busca de melhores oportunidades de trabalho e educação. A migração dessas pessoas agrava o problema da escassez de água nas cidades. Em muitas cidades, a água de rios e lagos está contaminada em virtude do despejo de resíduos domiciliares e industriais.
Como então, preservar esse recurso natural essencial á manutenção da vida? Qual o papel de cada cidadão nesse processo?
Um levantamento da ONU aponta duas sugestões básicas: aumentar a disponibilidade de água e utilizá-la mais eficazmente. Uma das alternativas seria o aproveitamento das geleiras; outra a dessalinização da água do mar. É possível, também, intensificar o uso das reservas subterrâneas profundas. Esses processos, no entanto, implicam na utilização de tecnologias de alto custo, o que encareceria o preço da água.
A proteção dos mananciais e a recuperação daqueles que já estão prejudicados são maneiras de conservar a água que ainda resta. Mas só isso não basta. É preciso fazer muito mais: tomar um banho de consciência e evitar o desperdício.
Na agricultura, o desperdício de água é muito grande. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), apenas 40% da água desviada é efetivamente utilizada na irrigação. Os outros 60% são desperdiçados: aplica-se água em excesso nas plantações; usa-se água fora do período de necessidade da planta, em horários de maior evaporação; aplicam-se técnicas inadequadas de irrigação, entre outros problemas.
Na indústria, é possível implantar a recirculação ou reuso, forma mais econômica de utilizar a água. A água reciclada pode ser usada na produção primária de metal, nos curtumes, nas indústrias químicas e de papel.
Nas residências, a água usada para lavar roupa, pode ser reaproveitada para lavar o quintal ou as calçadas; evitar vazamentos; regar jardins plantas somente pela manhã ou no final da tarde; lavar os carros com balde, sem o uso da mangueira; instalar caixas de descarga no lugar de válvulas, dentre outras medidas.
O crescente agravamento da falta de água tem levado as pessoas a estabelecer uma nova forma de pensar e agir. É preciso mudar hábitos, usos e costumes para respeitar os recursos do meio ambiente.
A conscientização e a educação do povo são fundamentais nessa luta. Racionalizar o uso da água não significa ficar sem ela periodicamente. Significa usá-la sem desperdício e considerá-la uma prioridade social e ambiental para que a água tratada, saudável, nunca falte em nossas torneiras.
Professor Marciano Dantas – Natal/RN.