Pular para o conteúdo

Blog do Vavá da Luz

É DANDO QUE SE RECEBE… ( Marcos Souto Maior) (*)

É DANDO QUE SE RECEBE…

                                                                                                                                         Marcos Souto Maior (*)

      Saia do meu escritório de advocacia, para o almoço, quando uma moto com condutor e uma garupa, fez um movimento brusco e parou, bem em frente a mim. De imediato me afastei rapidamente deixando que moto e condutores ficassem de costas, em eventual defesa pessoal.

                                               Imaginei um assalto, figurino que o nordeste importou do sul, e se alastrando, incontidamente, por todo país. Aliviou-me um pouco mais, quando o condutor desligou o motor, colocou a moto no descanso, o que significava ser gente do bem!

                                                Ainda com os respectivos    

capacetes de segurança enterrados nas cabeças, aonde muitas vezes servem para esconder as caras do mau; logo desceram da motocicleta e em voz alta o motoqueiro disse: “Ei Doutor Marcos, há quanto tempo não lhe vejo…” e continuou: “esta é a minha esposa”. Apertei as mãos de ambos e fiquei alegre em rever uma pessoa conhecida cuja face tinha me esquecido.

                                               A emoção foi tão grande que não consegui lembrar o nome daquele motociclista da paz! Mas pouco importa, porque se tratava de um homem bom e simples em busca de justiça, que se realiza pela ação advocatícia no equilíbrio social, sem olhar a quem.

                                               Com um sorriso nos lábios desatou o nó da garganta e disse: “Esta é minha esposa e faz muitos anos que não lhe via. Saudades daqueles tempos sua no Tribunal de Justiça da Paraíba”.

                                               Abri um sorriso de saudade e, como foram muitas as pessoas que proporcionei a ação da justiça a todos, quer como desembargador e, novamente, quer como advogado militante fui direto ao assunto dizendo que meu escritório estava às suas ordens…

                                               Ledo engano, ele resolveu a charada me olhando no fundo dos olhos e voltou a falar para terminar o suspense: “Eu tinha um problema prá resolver na justiça e, chegando ao gabinete do senhor, apresentei o número do meu processo, que precisava da sua assinatura pra terminar tudo. O senhor tava saindo pra uma viagem marcada e, tava sem paletó. Aí o senhor olhou prum lado e pra o outro, encontrou o paletó de seu filho, Hiltinho, vestiu apressado e foi despachar meu processo”.

                                               Fiquei atônito e emocionado, abracei-o fortemente no reencontro que foi rememorado dos saudosos anos 2001. As batidas do coração me fizeram pulsar a verdadeira sensação do dever cumprido, de quem, apenas, exerceu o difícil trabalho de decidir as disputas entre pessoas inconformadas.

                                               Chamei para um cafezinho quente, mas o meu herói desta crônica disse que estava com pressa para o trabalho. Ajudou a mulher montar novamente na sela da sua máquina, colocou o capacete e deu com a mão, se despedindo. Garantiu voltar outra vez!

Nem o sol escaldante me importunou. Fiquei olhando até o meu visitante dobrar a esquina da rua, desaparecendo!

                                               Raro alguém reconhecer e se lembrar para agradecer! Tanto que a oração de São Francisco de Assis prega: “pois é dando que se recebe”, mas esses são muitos e fazem de conta que nada aconteceu. Preferem navegara na ingratidão pura e simples, negando o passado que não se apaga jamais!

                                                                                                (*) Advogado e desembargador aposentado