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HITITAS NA PARAIBA

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Depois das teses extraterrestres, mediterrânicas, autóctones, egípcias, diluvianas e atlantes, surgiu a versão Indo-européia, lançada pelo pesquisador italiano Gabriele D’Aannunzio Baraldi, 60 anos, para explicar a origem das pictografias de Ingá, na Paraíba, a 64 Km de João Pessoa. Segundo ele, os 497 sinais esculpidos ao longo do painel das itacoatiaras formam parte de uma tábua do ideograma hitita, inconfundível para quem conhece a origem deste povo, a quem se atribui o uso pioneiro do ferro cerca de 13 séculos antes de Cristo e a fundação de uma civilização guerreira, evoluída, a ponto de concorrer com a dos egípcios.
Em entrevista concedida ao jornalista espanhol Pablo Vilarrubia, no início da década de 1990, Baraldi explicou que a Pedra do Ingá é uma prova irrefutável da presença dos hititas – ou proto-hititas americanos – neste Continente. O italiano também admite que o Chamado Mundo Novo (América) pode ser bem mais antigo que o Mundo Velho (Ásia, África e Europa). Naturalizado brasileiro, Baraldi garante que o painel já foi duas vezes maior, numa época em que funcionava como fachada de um monumento épico, que simbolizava “Uma figura humana de rei, com chapéu, sentado ao trono, tendo dois leões (ou onças) aos pés”.

De acordo com Baraldi, as insculturas vistas em Ingá, são mais recentes e datam de um período entre 1374 e 1322, antes de Cristo. Os hititas – que a Bíblia cita como heteus-, destacaram-se entre os povos que passaram pela Anatólia (A Turquia atual) por volta de 2500 a.C. Lá, eles alcançaram progressos notáveis para a época, como a fundição do ferro, encerrando a Idade de Bronze, embora esta tese seja contestada por uma ala da comunidade científica arqueológica.
Município esconde sítio arqueológico
O pesquisador admite que a Pedra de Ingá pode explicar, inclusive, a misteriosa origem da civilização hitita que, no caso, teria procedido da América, numa corrente inversa ao fluxo de ocupação do continente até hoje historicamente reconhecido. A fim de estimar a data das insculturas da Pedra de Ingá, Baraldi toma, como ponto referencial, os dados biográficos que falam de uma guerra de seis anos, ao fim da qual houve a destruição do poderio da Terra de Arzawa, também traduzido pelo pesquisador como Araxá-uá, o mesmo que “Trono do Planalto”.

O “Trono das Onças ou do Planalto”, segundo as observações de Baraldi, pode estar localizado nas imediações de Ingá ou mesmo em área próxima das insculturas. “Este grande documento arqueológico poderá ser descoberto se houver autorização para pesquisas e escavações melhor elaboradas. “É bom lembrar que Ingá possui a maior escrita hitita do mundo gravada em pedra”, insiste o italiano.

Monumentos arqueológicos hititas só foram encontrados, com tal base lingüística, na Mesopotâmia,assim mesmo em carimbos e selos. Baraldi ensina que a forma correta de leitura das inscrições da Pedra do Ingá é da direita para a esquerda e de cima para baixo – com o bloco “desvirado”. Um símbolo semelhante a uma linha vertical, existente no painel, é interpretado de duas formas: Baraldi diz que “se trata de uma lança, para sacrifício de animais”. Fathi Seha, arqueólogo egípcio que visitou o painel em 1977, disse que “aquilo tinha semelhança com um mapa do Rio Nilo”.

Na versão da lança, sustentada por Baraldi, a arma atravessa simultaneamente os dorsos de um bezerro, um boi e um cavalo,cujas figuras ainda são perfeitamente visíveis. Ao lado, vê-se o perfil de um sacerdote, ou pajé, barbudo, com cabeça e chapéu. Ele afirma que a figura “termina num desenho de cabeça de felino, encimado pelo perfil da cabeça de um cavalo. A parte traseira dos animais coincide com o arco e a dimensão da cabeça e do chapéu do sacerdote”.
Tupi-Português para identificar os símbolos
Baraldi se utilizou do Dicionário Tupi-Português, do sertanista Luis Caldas Tibiriçá, para interpretar e proporcionar fonemas às inscrições da Pedra do Ingá. Uma tábua de correspondência com inscrições hititas e suas traduções também foi utilizada pelo estudioso, para identificar os símbolos dessa escrita através de números, conforme a catalogação do francês Emannuel Laroche e dos hititólogos Merigi (italiano) e Guterbock (alemão). Baraldi escolheu o método Laroche, opção dois.

Após realizar as traduções, Baraldi ficou convencido de que existem, no painel de Ingá, símbolos como o 163, da tábua hitita de Laroche, que tem a pronúncia tupi de Mu-Já e o significado, em Português, de “parentes”, “raça e nação”. Da mesma forma, o símbolo 199 é Jassy em Tupi e “mês” ou “lua”, em Português. Juntando todos os símbolos, Baraldi, que é formado na Argentina em Letras e Filosofia e não tem formação acadêmica em arqueologia ou antropologia, garante que as inscrições de Ingá incluem mensagens soltas, com este significado: “Existe uma briga de fronteira, que é (situada) (n)o rio piscoso.

A briga é entre reinos (de) parentes próximos. O rei invasor pede aos guerreiros que façam um círculo ao redor dele, portanto decidido a tudo. O outro rei procura a negociação, lembrando o parentesco e as tradições da (pátria) mãe de origem”. A Revista A Carta, de 3 a 10 de novembro de 1990, traz reportagem ampla sobre as teses de Baraldi, além de uma autobiografia do pesquisador.
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Toda pessoa tem alguma noção sobre o que é Arqueologia. Isso porque, quantos filmes de aventura, livros de suspense e mistério, ou mesmo vídeogames não têm um arqueólogo como personagem principal mergulhado em alguma selva impenetrável, numa busca desenfreada por objetos raros e únicos, produzidos por estranhas civilizações desaparecidas. De fato, na vida real o arqueólogo enfrenta situações inusitadas e tem um cotidiano cheio de surpresas. Porém, a visão difundida pela indústria do lazer a respeito desse campo de pesquisa é limitada e ultrapassada, já que em ciência tudo se transforma: as teorias, os métodos e as próprias tecnologias que auxiliam nas descobertas e em suas interpretações.
Hilton Gouvêa