A escolha da humanidade
nossa primeira tarefa enquanto comunidade humana é reconhecer a
espantosa capacidade de escolha que temos diante de nós.
Se, por um lado, optarmos por ver o Universo como uma entidade desprovida de
vida, então é compreensível que sejamos invadidos por sentimentos de alienação
existencial, de ansiedade, pavor e medo. Por que motivo haveríamos de desejar
estabelecer uma comunhão com o espaço vazio e a fria indiferença da matéria inerte?
Relaxar no contexto de um universo morto apenas fará com que nos afundemos no
desespero existencial. Assim sendo, mais vale viver à superfície da vida, sem ansiar por
qualquer tipo de profundidade.
Se, por outro lado, sentirmos que vivemos num Universo vivo, então é natural que
sejamos invadidos por sentimentos de conexão, curiosidade e gratidão em relação ao
que nos rodeia. Quando nos vemos como habitantes do jardim cósmico da vida, que se
A
tem vindo a desenvolver desde há biliões de anos, o nosso olhar sobre o Universo deixa
de ser um olhar de indiferença, medo e cinismo, e passa a ser um olhar de curiosidade,
amor e reverência.
O futuro da humanidade depende de qual destas perceções adotarmos e das
escolhas subsequentes que fizermos.
O bem-estar da humanidade e da Terra dependem do despertar da geração atual,
da sua passagem da adolescência à idade adulta enquanto espécie, e do
estabelecimento de uma nova relação com a natureza, com os outros seres humanos e
com o Universo vivo.
Se não acolhermos o milagre da vida que nos rodeia e nos permeia, estaremos
certamente votados à extinção enquanto espécie. O caos climático, o aumento do nível
do mar, as migrações em massa, bem como a extinção de inúmeras espécies, estão já a
ultrapassar um ponto crítico, produzindo mudanças irreversíveis na Terra e dificultando a
possibilidade de uma viragem da humanidade em direção a um futuro sustentável.
Será que iremos escolher a destruição em detrimento da vida? Por muito que nos
custe aceitar essa hipótese, penso que é realista concluir que, a menos que a
humanidade encontre uma ponte inspiradora em direção a um futuro alicerçado na
experiência comum de um imenso potencial evolutivo, não disporemos da motivação
necessária para transformar separação e sobrevivência em comunidade e coevolução.
A humanidade começa agora a despertar, à medida que o impulso da necessidade
exterior vai ao encontro do impulso da capacidade interior. Contudo, as mudanças
climáticas radicais estão a acelerar tão rapidamente que existe um perigo real de que as
respostas da humanidade possam revelar-se demasiado escassas e demasiado tardias,
o que nos pode conduzir a uma nova idade das trevas.
Se estivermos distraídos e em negação, e ignorarmos a urgência e a importância
da grande transição agora em curso, perderemos uma oportunidade única e irrepetível
de evolução. A cada geração é pedido que faça sacrifícios pela próxima, para que seja
uma cuidadora do futuro. Esta geração está a ser empurrada por uma Terra ferida e
convidada por um Universo acolhedor a oferecer uma enorme dádiva ao futuro da
humanidade: trabalhar em conjunto com justiça e maturidade para realizar
conscientemente o nosso potencial biocósmico e o propósito de aprender a viver num
Universo vivo.
Duane Elgin