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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTÓRIA EM : O Voluntário do Ano

O Voluntário do Ano
Na primavera passada, um voluntário muito especial da nossa organização de caridade
quase perdeu a vida por causa de um condutor negligente.
A nossa relação com este voluntário tinha-se iniciado há já muito tempo com uma visita
casual. Tal como a maior parte dos visitantes, ele entrou pela primeira vez nos nossos
escritórios pela porta da frente…, mas, o que já não era habitual, foi ter entrado literalmente
de gatas!
Importa referir que o nosso centro de caridade está alojado numa comunidade
residencial que fica a um quarteirão de distância da praia, e que muitas vezes deixamos as
portas da frente abertas para apanharmos um pouco da brisa estival que sopra do lado do
mar.
Uma tarde, há onze anos, apareceu um gatinho malhado de laranja e branco.
Era tão obeso que pensámos logo que “ela” estaria grávida. Mas não.
Primeiro, meteu a cabeça pela porta para ver o que havia lá dentro. Como ninguém o
expulsou, passou por detrás da receção do escritório de aconselhamento, através da sala de
espera vazia, e então, com todo o à-vontade, subiu as escadas até aos escritórios da
administração.
E logo fez amizade com as pessoas certas: o nosso diretor executivo, Martin; a nossa
coordenadora dos voluntários, Valerie; e a nossa secretária executiva, Maureen.
Valerie falou com os vizinhos e descobriu que o nome do nosso visitante era Tigger.
Um assistente social que morava do outro lado da rua tinha-o adotado quando a família
que o alimentava se mudou para outra cidade. E foi então que, sozinho, veio até ao nosso
edifício à procura de companhia. Um ou dois voluntários achavam que era pouco profissional
termos um gato no edifício, mas ele tinha amigos influentes! Não raras vezes, Martin recebia
cartas de clientes do serviço de aconselhamento a referir como era reconfortante quando
Tigger lhes saltava para o colo e se enroscava todo, ronronando. Era também visita regular do
nosso grupo de jogos para crianças com dificuldades cognitivas. A primeira palavra
pronunciada por algumas destas crianças foi a palavra “gatinho”!
Assim sendo, em virtude dos seus valiosos serviços, Valerie acrescentou oficialmente
Tigger à nossa lista de voluntários.
Ao fim de um ano, o assistente social mudou-se para outro lugar, e Tigger foi viver com
um casal de reformados mesmo na casa ao lado do nosso escritório. O senhor faleceu pouco
depois, e a sua viúva, Olive, disse-nos que tomar conta de Tigger a ajudava a aceitar e a
superar a perda. No entanto, ele não nos esqueceu. Continuou com as suas visitas e iluminou
o dia de muitos utentes e colaboradores, criando igualmente um laço entre Olive e muitos dos
nossos funcionários. Valerie deu a Olive uma placa especial com a imagem de Tigger e uma
placa de bronze gravada com a frase Voluntário do Ano.
Na primavera passada, Tigger foi colhido por um carro. Um vizinho descobriu o seu
corpo todo partido, e apressou-se a levá-lo ao veterinário. Os ferimentos eram terríveis! E o
veterinário manifestou poucas esperanças de que Tigger sobrevivesse, e foi de opinião que o
mais piedoso a fazer seria deixá-lo partir. Mas Olive não pôde sequer suportar a ideia de o
abater sem tentar salvá-lo, e disse-lhes que fizessem tudo o que pudessem.
E muitos de nós fomos visitá-lo durante as semanas em que permaneceu no hospital.
Na minha primeira visita, a rececionista levou-me até às traseiras.
O cheiro a antisséticos, medicamentos e animais atingiu-me em cheio logo que cruzei a
porta. Ao longo de duas paredes, havia vários cubículos com animais em diferentes fases de
risco de vida.
Tigger estava deitado sobre uma mesa de metal no centro da sala. Sentada ao lado dele,
uma veterinária assistente estava a aplicar-lhe uma injeção de antibióticos e analgésicos.
E convidou-me a aproximar.
Um tubo intravenoso sobressaía da pequena pata de Tigger. A cara estava uma
desgraça: a mandíbula, que tinha sido partida em dois sítios, estava unida por uma estrutura
metálica. Tinha a bacia fraturada e as patinhas traseiras estavam engessadas. Parecia tão
pequeno e frágil! A assistente perguntou se eu queria ficar e dar-lhe de comer.
Com cuidado, colocou Tigger de volta no cubículo, acondicionando-o num cobertor
macio. Havia um prato de comida mole a um canto. Peguei numa colherinha, enchi-a com um
pouco de comida e levei-lha à boca. Embora tentasse, mal conseguia levantar a cabeça. Mas
pôs a língua um pouquinho de fora para provar. Seria necessário alimentá-lo por via
intravenosa por mais algum tempo.
Na primeira semana, não sabíamos se Tigger iria conseguir sobreviver, mas, de cada vez
que recebia uma visita, parecia que o seu ânimo melhorava. Na segunda semana, já sentíamos
muitas esperanças…. E na terceira, o veterinário teve de limitar as entradas, dizendo que
nunca tivera um doente com tantas visitas! Embora se sentisse muito bem com a nossa
companhia, é certo que Tigger precisava de descansar!
Após algumas semanas de recuperação e de vigilância cuidada, Tigger pôde enfim voltar
para casa. Foi homenageado no nosso banquete anual de reconhecimento ao voluntário, em
abril, e o jornal local escreveu um artigo completo sobre ele, com fotos e tudo.
Hoje, embora Tigger, velhinho, já não venha ao escritório, terá sempre um lugar muito
especial nos nossos corações. E sentimo-nos verdadeiramente felizes, porque nós, seus amigos
e colegas, fomos capazes de lhe dar a vontade de viver, em troca da alegria e do serviço que
ele nos proporcionou de livre vontade ao longo de muitos anos!
Edi dePencier