Acometido de um surto de nostalgia me vem à tona uma preleção que ouvi lá pelos idos de 1975, época da minha iniciação no
jornalismo, por parte do meu então chefe de reportagem, em A União, Frutuoso Chaves, um dos jornalistas mais sérios, éticos e eficientes que tive a oportunidade de conhecer.
Dizia-nos Frutuoso em tom amistoso, mas já advertindo, que “enquanto não ouvir todos os envolvidos e tiver todas as versões do fato, a matéria não sai”. E, acrescentava: “saibam que o leitor tem o direito de ler todas as versões de uma história e escolher a dele”. Fechava a preleção lembrando que “a imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.
Chefe de reportagem e “pauteiro” ao mesmo tempo, Frutuoso nos encaminhava para o bom jornalismo, nos direcionava para aquele jornalismo feito com paixão, mas sempre voltado para os princípios éticos que a profissão exige e espera. Após todas essas décadas a lição de Frutuoso ainda permanece nítida, acredito, na memória de todos e a ele devemos esses ensinamentos.
Faço estas observações imbuído dos melhores propósitos, sem a mínima intenção de querer julgar ou mesmo censurar quem quer que seja, apenas lamentando que nos dias atuais, parte da imprensa daqui e alhures, procure dar mais atenção ao sensacionalismo do que mesmo aos fatos como se o leitor, ouvinte ou telespectador fossem meros consumidores de factóides e que não tivessem discernimento para distinguir a verdade da mentira.
Outro fato repugnante é quando o profissional de imprensa se atrela a pessoas e/ou a grupos políticos, e passa a fabricar, propositadamente, notícias sempre com o intuito de prejudicar ou denegrir o lado antagônico, muitas das vezes, sem nenhuma comprovação ou senso de responsabilidade.
Esse tipo de profissional não passa de um falsário, de um enganador, pois, esquece que está ludibriando a boa fé da população, naquilo que lhe é peculiar, que é o direito de ter acesso a verdade. O pior de tudo isso é que muitas das vezes, deliberadamente, sem o menor pudor, escondem os interesses daqueles que estão por trás das cavilosas falácias.
De tanta falta de vergonha, esse tipo de “profissional” geralmente se faz de desentendido e esquece de que o cidadão com um pouco de percepção da realidade, além de renegar não dar à mínima credibilidade às firulas laudatórias e ao gritos histéricos em decibéis.
O pior de tudo é que esse tipo de “escriba de aluguel” a cada dia que se passa se acentua cada vez mais nas redações e, sem a mínima responsabilidade, passa a “fabricar” notícias compostas de todos os tipos de recheios e de sabores igualmente a uma fabriqueta de biscoito de ponta de rua.
O reflexo de tudo isso apenas leva ao descrédito, a chacota ou mesmo ao despautério. Pouco ou quase nada do que se escreve e do que é dito acrescenta ou é levado em consideração. A noticia serve mais de fofoca quando deveria servir para informar o cidadão naquilo que lhe é peculiar e é do seu interesse, ou seja, a verdade dos fatos.
No entanto, é bom que de frise, que muitas das vezes, o tiro sai pela culatra, pois, quando esse “profissional” não serve mais ao esquema, geralmente é escanteado, desmoralizado e jogado ao limbo sem qualquer credibilidade. Torna-se mendigo de si mesmo sem a mínima decência para encarar a sociedade. Exemplos existem aos montões!
Não existe crime mais repugnante do que escamotear os fatos e, pior ainda, quando se arvoram do direito de liberdade de expressão, para criá-los com o simples propósito de atingir a dignidade e honra alheia.
Frutuoso tem razão: “Imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.
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