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Blog do Vavá da Luz

CARNAVAL BRASILEIRO (POR LOURDINHA LUNA)

No Calendário Litúrgico da Igreja Católica, no segundo domingo após o Natal (data alterada pelo Concílio Vaticano 2º), começa a Epifania, que se traduz por “apresentar”, ato que se deu ao ser o menino Jesus exposto à veneração dos Reis do Oriente – Melchior, Gaspar e Baltazar. Ao reconhecer Nele a Majestade, os Magos, o presentearam com incenso, ouro e mirra que ao fogo exala agradável aroma.

Após a celebração divina, chega o carnaval, termo que tem sua versão para “prazeres da carne”, uma manifestação pagã para comemorar o evento, realizado em 3 dias.

Originário da Roma Antiga e incorporado pelas tradições, o tríduo profano passou a marcar um período de festividades, em louvor da folia. Na Europa do século XVII, Paris se destacou como a capital que deu partida para o festival de orgia e irreverência. O divertimento laico entrou na corte e encontrou guarida nas cabeças coroadas, para os bailes com máscaras e outros adereços.

O carnaval chegou ao Brasil, no século XVIII, atraído pelos brasileiros que visitavam o velho mundo. Mas, seu vigor, como espetáculo fascinante, teve inicio no século XX. Para o folguedo mundano adotou-se vestes especiais, cada vez mais ostensivas e caprichadas, para homens e mulheres. Entraram em uso, o confete, a serpentina e o lança-perfumes, que aspergido numa direção, era reverência ou sedução…

Na Paraíba, o desfile em veículos motorizados, que se chamava corso, acontecia nas tardes, quando as jovens, nos carros alegóricos de “capota arriada” exibiam ostensivas fantasias. Os rapazes, vestidos com figurinos apropriados, ocupavam caminhonetes ou caminhões, ornados, com as figuras de Pierrô, Colombina e Baiana, indicativos de que vivíamos o maior evento folclórico do mês de fevereiro ou março de cada ano.

Pela manhã, os blocos faziam visitas às residências dos abonados da cidade, onde eram bem recebidos, ao som de um conjunto musical que os faziam dançar, cantar e despediam-se com a promessa do retorno.

No folguedo popular fora introduzida a figura do rei momo, que ditava as ordens do seu reinado, escrita numa longa tira de papel, para que todos fizessem da folia instantes de prazeroso divertimento.

Na centúria passada surgiram as Escolas de Samba, no Rio, São Paulo que hoje atraem turistas do mundo inteiro, para documentar o espetáculo que acontece do sábado à quarta-feira de cinzas e que não há similar no universo. A 1ª Escola recebeu o nome de “Deixa Falar”, substituída para Estácio de Sá, onde funcionava seu barracão. Em 1992, seu Grupo Especial conquistou o 1º lugar, com o enredo “Paulicéia Desvairada – 70 anos de Modernismo.” Os estados pequenos imitiram os grande e as escolas de sambas se vincularam até o presente.

O entusiasmo pela folgança não exclui classe social ou clerical. No Rio de Janeiro, um bispo, filiado ao catolicismo, desfilou no Sambódromo, atitude aclamada por uns e condenada por outros

Há noticias de que Willis Leal, o carnavalesco autêntico da Paraíba, pretende um retorno ao espetáculo centenário, com os ingredientes que o fizeram inesquecível. Seria louvável para que os remanentes dos velhos carnavais, se reencontrem na repetição e os mais moços conheçam, os primórdios de nossa alucinante festa popular.

 

Lourdinha Luna é membro da Academia de Letras de Areia.

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