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Blog do Vavá da Luz

BOLSONARO E OS GENERAIS

BOLSONARO E OS GENERAIS

Talvez eu possa dar uma contribuição para esclarecer o surgimento de Bolsonaro como líder político. No ano de 1986, a Vila Militar fervia de indignação. Havia uma crise de abastecimento no Rio e a milicada ganhando pouco, sofria mais ainda com os sobrepreços.

Mulheres reuniram-se no centro da Vila da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), onde moravam seus mais de 300 alunos. Eu era instrutor, tenente-coronel, e minha mulher engajou-se no tal bate-panela. Na Escola, o curso de Artilharia ameaçava a queima de contra-cheques. O General Burmann, um líder inigualável, reuniu toda a Escola e declarou que ele, pessoalmente, não passava pela mesma aflição, tinha os filhos formados e a mulher trabalhava.

Mas fora capitão e bem recordava o que passou. Saiu aplaudido da reunião. Aplaudido é modo de dizer, que milico não aplaude, nem vaia. Ano seguinte fui transferido para a Bahia e Bolsonaro foi cursar a EsAO. O combustível já estava espalhado, faltava o fogo. E o jovem capitão comandou “Fogo!” Parece simples, mas foi uma ousadia sem limites. As bases das Forças Armadas, hierarquia e disciplina, foram abaladas.

O restante da história, o processo no STM, a saída do Exército e a o início da carreira política todos conhecem. Mas há um dado oculto nisto tudo que ajuda a corrigir uma afirmação da repórter da VEJA ao “bunda suja”.  A elite militar do passado quis usar Bolsonaro e não teve sucesso: o sujeito não era controlável e seus antigos chefes não entenderam de imediato que o seu mandato era de quem o elegeu. Mas Bolsonaro nunca retrucou fortemente os “velhinhos” e aceita ser tratado como Cadete.

 

Com o tempo, militares do extrato médio como eu, passaram a sufragá-lo no segredo da cabine eleitoral. Hoje boa parte do Alto Comando do Exército é da turma de Bolsonaro.

Agora me digam amigos paisanos: este cara conviveu no mesmo alojamento, por cinco anos, com os atuais generais, primeiro na Escola Preparatória de Campinas, depois na AMAN, fizeram farras homéricas, ralaram juntos no paraquedismo e na Escola de Educação Física, juntos fizeram EsAO, se encontram para relembrar os tempos de Academia Militar a cada cinco anos e uma repórter vem dizer que eles o chamam de “Bunda Suja”! Onde se cultiva a sadia camaradagem não há espaço para isto. Se os generais presentes na AMAN não lhe deram uma recepção mais efusiva foi em respeito formal ao Jungmann, deslocado, peixe fora d’água. Bolsonaro, ali, nadava de braçada.

Texto do general Maciel, enviado para a VEJA.

Revista Sociedade Militar