Mulheres estão explorando melhor a sexualidade e buscando relações mais completas com os parceiros
“Transei mais, gostei mais, senti mais e tive mais parceiros”, diz Fabiana Motroni, executiva de marketing, sobre sua vida sexual depois que se separou do ex-marido. “Só então me permiti viver a sexualidade fora de relacionamentos formais”, avalia ela, que dos 18 aos 34 anos foi para a cama apenas com os quatro namorados que teve. Hoje, aos 40, ela ilustra o comportamento da mulher brasileira atual: mais satisfeita sexualmente e à vontade com o prazer: “Revi conceitos do que é relacionamento”, afirma.
Para Andreza, é essencial conversar com o parceiro sobre sexo e buscar prazer na relação
Fabiana é um dos exemplos do cenário apresentado na pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, que mostra que a brasileira está mais satisfeita sexualmente na última década. De acordo com o levantamento, divulgado na última semana, 68% das brasileiras declararam estar satisfeitas com a maneira de viver sua sexualidade. Em 2001 o índice era de 61%.
“Esses dados são reflexo da participação ativa da mulher em todos os processos de relacionamento, tanto de trabalho como de sexualidade e prazer”, avalia Gerson Lopes, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Para ele, elas estão investindo no seu erotismo, aprendendo a se posicionar e argumentar na relação com os parceiros. “Tive uma experimentação muito maior e uma vivência sexual positiva, a ponto de interferir na minha autoestima e na aceitação do meu corpo”, diz Fabiana.
Para Andreza Di Gennaro, comerciante de 32 anos, é preciso se impor na relação com o parceiro: “Quero ter prazer sempre e converso ou demonstro isso para ele”, diz. Com mais abertura e clareza sobre suas preferências, a qualidade do sexo para as mulheres também melhorou: 84% das entrevistadas pela pesquisa dizem “sentir muito prazer” ou “achar o sexo gostoso” na maioria das relações sexuais, frente a 78% em 2001. “Há uma familiaridade maior das mulheres com seu próprio corpo. As que declararam ter feito ‘sexo por obrigação, não sentiu nada ou foi um sofrimento’ diminuíram de 17% para 9% e consideramos este um dado muito positivo”, aponta Gustavo Venturi, sociólogo e coordenador do Núcleo de Opinião Pública (NOP) da Fundação Perseu Abramo. A tendência, segundo ele, é que as mulheres brasileiras continuem na busca por igualdade de direitos e reciprocidade – inclusive entre quatro paredes.
Mais experiência
Para Lopes, as mulheres estão se permitindo mais vivências e têm mais oportunidades de fazer sexo. Essa liberdade de viver explica em parte o maior número de parceiros e experiências sexuais da mulher atualmente. “Antes era um homem para vida toda”, ressalta.
“Não sou de fazer sexo no primeiro encontro, mas também não sou puritana. Acho que mesmo tendo liberdade é preciso existir um envolvimento”, diz Andreza, que teve cerca de 12 parceiros sexuais ao longo da vida. Muito para algumas, pouco para outras, o valor é acima da média das brasileiras, de 3,4 parceiros, segundo dados da pesquisa nacional. O levantamento mostra também que 45% das mulheres afirmam ter tido apenas um parceiro na vida, um número bem expressivo frente aos homens que disseram a mesma coisa: 14%. A tendência é que essa diferença diminua cada vez mais, diz Venturi. “Temos uma toda uma geração de mulheres mais velhas que casou virgem e só teve um parceiro. Isso vem diminuindo com o avanço das gerações”, aponta.
Satisfação não é orgasmo
“Chegar ao orgasmo é fácil, ficar satisfeita é difícil”, diz Andreza. Para ela, sentir prazer não é suficiente se a mulher não se sente desejada, não tem carinho ou atenção. E essa exigência se reflete na pesquisa também: entre as mulheres que sentem muito prazer quando transam, há 21% que não se dizem completamente satisfeitas com a vida sexual. “As mulheres desejam muito mais que o resultado orgástico, a sexualidade para elas é maior e mais inteira”, diz Lopes. Um levantamento feito por ele mostrou que, entre as mulheres que se diziam satisfeitas sexualmente, só 40% chegavam ao clímax. Venturi concorda que a satisfação pode não ter relação com freqüência sexual ou prazer. “É um campo mais amplo. Existem mulheres que têm muitas relações e estão satisfeitas, e outras não têm relação e também estão satisfeitas”, diz.
( Colaborou Danielle Nordi, iG São Paulo)
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